sexta-feira, 21 de maio de 2010

A avó que curte mangá

Ontem à noite estava conversando com uma grande, enorme!, amiga que está morando no Japão e ela me contou uma coisa linda que tenho que escrever aqui.  A mãe da Paula é filha de japoneses imigrantes, nasceu no Brasil e quando era jovem falava bem, lia e escrevia o japonês.  Mas com o passar dos anos perdeu o contato frequente com a língua nativa dos pais.  Há dois meses a Paula se mudou para Osaka e resolveu procurar para a sobrinha, fã número 1 de mangás, algumas revistas em japonês.  Tudo para incentivar a sobrinha querida a continuar seus estudos de japonês.  O pacote com vários mangás chegou em São Paulo na semana passada e a sobrinha pirou!  Ficou tão feliz com o presente que carregou os mangás prá casa da avó, pro almoço de domingo.  A avó se comoveu com o interesse da neta pelas revistas.  Sentou-se ao lado dela para que pudessem ler, juntas, os mangás em japonês.

Mais tarde essa avó maravilhosa contou para a filha, minha amiga, que ficou muito feliz de ter tido aquele momento com a neta.  Não deve ser tarefa fácil ser avó de uma adolescente - acho que fica difícil achar interesses em comum quando a garotada está com 14, 15 anos.  Quem diria que um mangá proporcionaria esse tipo de aproximação entre avó e neta?  A mãe da Paula disse que ficou feliz também com o fato dela ter conseguido se lembrar tão bem da língua dos pais.  Foi mesmo um momento de leitura mágico que juntou pelo menos quatro gerações dessa família: os bisavós japoneses, a avó leitora, a tia que mandou os mangás lá do outro lado do planeta e a bis/neta-sobrinha.

Mas a história não pára por aí.  Naquela tarde de domingo tinha um jogão no Morumbi e a família toda da Paula, alucinada pelo São Paulo que é, foi prestigiar o time no estádio.  A sobrinha não teve dúvida - levou o mangá junto.  Pro jogo de futebol no Morumbi.  Só quem conhece essa família e sabe o nível de 'comprometimento' deles com o futebol entende o que isso significou...

Em tempo: esqueci de perguntar para a minha amiga o que a mãe dela achou do mangá.  Da próxima.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Para quem sabe ouvir o outro

Estava agora de manhã pensando numa coisa que aconteceu ontem e que eu acho que vale a pena contar aqui.  Ontem teve feira do livro lá na escola da Luísa e ela e as amigas juntaram os dinheirinhos que tinham na mochila para comprar um livro sobre animais do fundo do mar.  Ela estava empolgadíssima com o livro e com o arranjo que ela tinha feito com as amigas.  Combinaram de levar o resto das mesadas hoje para comprar os outros dois títulos da coleção que traz ilustrações em 3D.  Cada uma fica com um dos livros em casa e a cada quanto elas vão trocando - assim têm a possibilidade de curtir toda a coleção.  As três pensaram em todos os detalhes.

A Luísa foi contemplada com o livro que elas compraram em conjunto ontem e por isso vinha no carro louca para chegar em casa e tirar o livro da mochila.  Falava sem parar do livro e contava as coisas que já tinha lido lá.  "Sabe que o tubarão fica se mexendo sem parar porque isso ajuda ele a respirar?"  Eu sorria e escutava.  Estava achando a história toda uma belezura.

Chegamos em casa.  E o que foi que eu fiz?  Sentei na frente do computador, liguei a máquina, puxei minha agenda e comecei a olhar emails e fazer telefonemas.  Estamos de mudança e eu tinha uma lista de coisas para fazer, mas isso não é desculpa!  A Luísa estava lá, louquinha para me mostrar o livro, louquinha para ler comigo e eu?  Ignorei solenemente o desejo dela.  Agora ela está lá na escola e eu aqui, de novo sentada na frente do computador, morrendo de culpa e de vontade de poder voltar o tempo.

Em inglês existe um termo que educadores usam quando aparecem situações de ensino não-planejadas, mas que são perfeitas para se explorar algum conceito.  São os "teachable moments" que só quem é sensível aos desejos dos alunos consegue enxergar e aproveitar.  Um dos maiores elogios que já recebi de uma diretora foi por saber explorar esses "teachable moments" na minha sala de aula.  Então como é que eu pude ser tão obtusa a ponto de não enxergar esse momento especial que a Luísa me oferecia ontem?  Ai, ai, mais um episódio para o livro dos traumas.  

Ainda bem que essa história tem final feliz.  Quem veio salvar a pátria, sentado num cavalo branco, foi o Felipe.  Depois de desistir da mãe que só sabe ficar na frente do computador e mandar tomar banho, estudar violino e fazer tarefa, a Lulu apelou para o pai.  E ele foi todo ouvidos, atenções e carinhos.  Ainda bem!  É claro que eles se sentaram juntos para ler os mistérios do fundo do mar.  Ela foi dormir feliz, tenho certeza.

Também tenho certeza de que quando a Lulu for grande, as lembranças de leitura mais marcantes dela vão ser dos momentos que dividiu com o pai.  Eles dois têm um entendimento quando lêem juntos que é uma maravilha de se observar.  Entram juntos dentro dos livros e ficam lá, perdidos, fora do mundo.  Às vezes dá uma pontinha de inveja, mas eu fico mesmo é muito feliz de ver essa conexão.  

Toda criança merece ter uma conexão assim na vida.  Com pai, mãe, vô, vó, tio, tia, irmão, qualquer um!  Nunca vou me esquecer do meu irmão mais velho, o Tonzé, lendo enciclopédias de animais para os nossos irmãos que são dez anos mais novos.  Eles ficavam horas e horas e horas olhando as figuras e falando sobre os animais.  Era quase um ritual.  O Tonzé chegava em casa na hora do almoço e os meninos puxavam a enciclopédia.  Momentos mágicos.  Inesquecíveis.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ler é...

Li hoje no site do leer.es essa lista com dez ideias para criar bons leitores.

Compartilhar
O prazer da leitura é contagiante quando lemos juntos.  Vamos ler histórias, romances, novelas, quadrinhos, na internet...

Acompanhar
O apoio da família é necessário em todas as idades.  Não abandonemos nossos filhos quando eles aparentemente já sabem ler.

Propor, não impor
É melhor sugerir do que impor.  Vamos evitar tratar a leitura como uma obrigação.

Respeitar
Os leitores tem direito a escolha.  Vamos respeitar seus gostos e como estes evoluem.
 
Dar exemplo
Nós adultos somos um modelo de leitura para crianças e jovens.  Vamos ler diante deles e mostrar o quanto desfrutamos de nossas leituras.
 
Estimular
Qualquer situação pode proporcionar motivos para se aproximar dos livros.  Deixemos livros ao alcance de nossos filhos sempre.

Escutar
Nas perguntas que fazemos às crianças e adolescentes está o caminho para seguir aprendendo.  Vamos prestar atenção em suas dúvidas.

Pedir conselho
A escola, as bibliotecas e as livrarias com seus especialistas serão excelentes aliados.  Vamos visitá-los sempre.

Ser constantes
É importante reservar um tempo para ler todos os dias.  Vamos procurar que estes sejam momentos de relaxamento, com disposição para a leitura. 

Organizar-se
A desorganização pode atrapalhar a leitura.  Vamos ajudar nossos filhos a organizar seu tempo, sua biblioteca...

Estou adorando explorar esse site que tem uma área reservada para as famílias.  Quem estiver curioso é só clicar:

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mais histórias de avô e avó

Ler o livro Histórias de Avô e Avó do Arthur Nestrovski com a Luísa está sendo uma delícia.  Ainda não sei porque, mas ela realmente se identificou com ele.  Ontem lemos o penúltimo capítulo antes de dormir e daí eu disse que só faltava mais um.  Ela disse "Aaaaahhhh..."

Por que será que a gente gosta tanto de lembrar de Vô e Vó?  Tem muitos livros bacanas que falam dessas lembranças.  Outro dia minha amiga Adriana me lembrou do Bisa Bia e Bisa Bel da Ana Maria Machado.  Acho que a gente já teve esse livro em casa, procurei para ler para a Lulu, mas não encontrei.  Agora estou louca para pegá-lo lá na Barca dos Livros porque a história é muito divertida e emocionante.

Outro livro bem bacana, mas que sempre me faz chorar é o Menina Nina do Ziraldo.  Ele conta a história da Vó Vivi por quem me apaixonei porque me lembra minha própria avó, minha Iaia.  Desafio a qualquer um ler esse livro sem fazer brotar lágrimas nos olhos.  Mas não pare na última página - leia também o que o Ziraldo escreve depois de acabar a história - o "making of" do livro e uma linda homenagem às avós do Brasil.
E só mais uma dica de livro maravilhoso, daqueles que faz a gente sonhar, voar, esquecer da realidade.  É Um Cantinho Só Prá Mim da Ruth Rocha.  Conta a história do Pedro que achou um cantinho "só prá ele" na casa da avó - só poderia ser na casa da avó - para "pensar, ficar pensando... pensando... coisas que não existem...  Inventar coisas...  Imaginar coisas..."

Talvez essa postagem não esteja falando muito sobre leituras compartilhadas, mas é que o simples fato de compartilhar alguma coisa tem efeito dominó, como eu já comentei antes.  Uma coisa puxa a outra e de repente estou eu aqui compartilhando mais do que minhas experiências de leitura em família.

E já que eu estou falando de histórias de avô e avó vou contar do projeto maravilhoso que minha amiga Paula Berlinck fazia com os alunos de segundo ano dela lá em São Paulo.  Ela lia com a turma delao mesmo livro que eu estou agora lendo para a Luísa.  Depois convidava os alunos a fazer entrevistas com os avós e descobrir mais detalhes sobre as histórias deles.  No final do projeto professora e alunos montavam uma exposição maravilhosa, com mil tesouros de família emprestados, coisas de Vô, Vó, Biso, Bisa...  Cada objeto tinha uma história e assim as crianças aprendiam mais sobre quem eram, de onde vinham.  Tem jeito mais mágico de aprender?

Estou morrendo de saudades de ver esse projeto e morrendo de pena porque a Lulu não teve a oportunidade de ser aluna da Paula.  Mas acho que dá prá fazer um mini projeto aqui em casa mesmo.  Ainda bem que eu tive a oportunidade de aprender com a minha amiga.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Há vários dias que estamos lendo juntos um livro chamado Histórias de Avô e Avó, escrito pelo Arthur Nestrovski que é um músico maravilhoso, um violonista de primeiríssima com talento para fazer um montão de coisas diferentes.  Inclusive escrever livro infantil.  Há uns dias que estamos lendo este livro, a Luísa, o Fê e eu.  Só que não estamos lendo os três juntos, juntos.  De vez em quando o Felipe lê prá Lulu e de vez em quando sou eu quem lê prá ela.  Uma besteira isso.  Deveríamos mesmo era parar de fazer o que quer que seja para curtir quinze ou vinte minutos juntinhos lendo - os três.  E de preferência incluindo o Pedro na história, se bem que ele está bem naquela fase de querer passar loooonge de qualquer coisa com o adjetivo infantil.  Literatura sim, infantil de jeito nenhum.  Mas enfim, acho que esse vai ser o meu próximo desafio.  Transformar esse hábito de leitura compartilhada em leitura em família MESMO.  Todos juntos.  Ao mesmo tempo.


Todo mundo lê muito aqui em casa.  Há livros, revistas, revistinhas espalhados por todos os cômodos.  Mas, não sei porque, somos leitores muito solitários.  Li num livro lindíssimo da Heloísa Seixas chamado Uma Ilha Chamada Livro que "quando um leitor se senta para ler um livro, são duas solidões que se encontram."  Isso é muito lindo, mas vou confessar que eu bem queria que o livro aqui em casa fosse mais socializado.  A gente fala muito 'sobre' livros, troca ideia, opinião, mas eu queria que a gente compartilhasse mais momentos de leitura.  Uma amiga me contou uma vez que na casa dela pais e filhos vivem lendo uns para os outros.  Não que eles leiam sempre juntos, mas quando encontram alguma coisa de que gostam muito sentem uma necessidade enorme de compartilhar.  Eu também sinto isso, mas em vez de ler para o meu marido ou para as crianças, acabo passando o livro (texto, artigo, o que for) para eles e dizendo "Olha que lindo!"  Só que desse jeito a emoção que eu senti ao ler se perde...  porque ela não vai passar pela minha voz, pelos meus olhos, pelo meu corpo.  Fica presa em mim.  Por mais que o outro leitor (quem quer que ele seja) também ache aquilo lindo, a leitura vai ser diferente.  A emoção também.


Eu me pergunto porque nós não temos esse hábito em casa e se é possível mudar isso.  Imagino que sim e que não custa nada tentar.  Já estou aqui fantasiando uma casa cheia de palavras voadoras, onde se lê poesias, crônicas, trechos de livros e, obviamente, artigos sobre futebol o tempo todo em voz alta.  No meio da sala, de pé em cima da mesa, na cozinha, em qualquer lugar!  Vou fazer essa proposta.  Talvez me achem meio doida, mas vou propor de cada um ler para outra pessoa da família alguma coisa que gosta.  Só para ver como a gente se sente.  Depois eu conto como foi.


Mais uma dica - só que essa eu ainda não conheço.  Estava procurando uma imagem do livro do Arthur Nestrovski e dei no site dele na internet.  Descobri que ele tem um lançamento fresquinho:  Agora Eu Era, da Cia. das Letrinhas.  Acho que vale a pena olhar.  Se for parecido com os outros livros dele vai ser tudo de bom!



quinta-feira, 6 de maio de 2010

Por que?

Uma postagem bem curtinha e bem rapidinha só para eu me lembrar por que estou queimando as pestanas de tanto estudar.  Tem muita coisa escrita e estudada sobre a leitura em voz alta e seus benefícios.  Eles são muitos,  mas eu estou aqui matutando: por que?  Se eu tivesse que escolher uma razão dentre todas as outras para explicar esse porque, o que eu escolheria?

Então aí vai: porque é muito fácil.

A relação entre o ato de ler para alguém e os benefícios decorrentes desse ato é absurda.  Uma coisa tão, tão fácil de se fazer, com um resultado tão tremendo.  Não tem desculpa que justifique a não-leitura compartilhada.

Taí.  Já disse tudo.