Não me lembro de ler Alice no País das Maravilhas, do Lewis Carroll, quando criança. Acho, no entanto, que muitos da minha geração lembram-se de assistir às versões dos clássicos produzidas pela Disney para o cinema. (Sou filha de Brasília e adorava as sessões de sábado do Karim Criança, lá no Conjunto Nacional, onde assistia aos filmes, brincava nos túneis de pano e nas almofadas enquanto comia um Kri). Na verdade não sei bem quando foi que li Alice... mas sei que com a nova versão para o cinema, desta vez em filme do Tim Burton, o meu movimento foi o oposto. Não assisti ao filme, mas acabei me deparando com duas lindas e intrigantes versões do livro: uma grandona, colorida, de capa dura, ilustrada por Michael Foreman e a outra pequeninha, com ilustrações em preto e branco, que apareceu grátis num aplicativo de livros digitais que baixei para o meu ipod.
Há algumas semanas consegui cavar uma brecha no momento-de-leitura-antes-de-dormir. O Felipe estava trabalhando muito então entrei de substituta e perguntei se a Lulu queria ler o Alice no País das Maravilhas. Como estava empolgadíssima com a novidade de ler livros no ipod, propus que ela acompanhasse no livrão enquanto eu ia lendo prá ela do ipod. Ela não gostou nem um pouquinho. Torceu o nariz, disse que não. Eu insisti, disse que estaríamos as duas na cama, juntinhas e ela acabou aceitando. Lemos um capítulo, lemos dois e no terceiro dia ela me deu um ultimatum: "Hoje é sem ipod! Vamos ler só do livro mesmo."
É realmente incrível que eu, estudando o tema de leitura em voz alta e leitura compartilhada do jeito que tenho feito, possa ter proposto uma bobagem dessas. Queria mostrar para a Luísa que não importava o meio de leitura (livro digital/livro impresso) porque afinal de contas o texto era o mesmo, a história era a mesma. Mas nessas de querer inovar, acabei me esquecendo do principal: do aconchego que existe quando se compartilha o livro. É tão simples e tão óbvio: UM objeto que une duas pessoas, a história que toma vida a partir da leitura feita em voz alta e compartilhada num momento de comunhão.
Não penso que o problema tenha sido o livro digital. Acho que o problema foi justamente eu querer inserir um quarto elemento na nossa experiência. Vivo falando na feliz triangulação de livro, leitor e ouvinte nos momentos de leitura compartilhada, mas vejam só! Me atrapalhei na minha própria convicção.
Pelo menos a postagem tem final feliz. Larguei o ipod, me encostei na Lulu e terminamos de ler juntas as aventuras de Alice. Felicidade pura.
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