sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Acredite na mágica

"And above all, watch with glittering eyes the whole world around you because the greatest secrets are always hidden in the most unlikely places. Those who don't believe in magic will never find it."

 
— Roald Dahl

"Olhe o mundo a seu redor com olhos brilhantes porque os maiores segredos estão sempre escondidos nos lugares menos prováveis. Aqueles que não acreditam em mágica nunca vão encontrá-la".

sábado, 6 de novembro de 2010

Dicas de Germán Machado

Achei num passeio pelos meus blogs favoritos e não resisti.  Resolvi copiar aqui as treze instruções que o autor uruguaio Germán Machado dá para se viver a leitura na companhia de nossas crianças. 

"Desde mi experiencia de lector y escritor; conciente de que uno escribe a medida que aprende a leer; para no terminar esta locución con preguntas; y a riesgo de resultar pedante: propongo ahora trece instrucciones para ayudar a leer al niño que, así lo pienso, pueden ordenar mejor mis ideas sobre el tema. Son estas:
1. No lea al niño que usted dejó atrás: lea con el niño que está junto a usted. Tampoco se adelante al niño en su lectura: conózcale su tranco, acompáñelo y déjelo leer en soledad cuando él así lo quiera.
2. Lea como si usted nunca fuera a dejar de ser un niño, pero sabiendo que ya no lo es. Lea en la actualidad, pero sabiendo que en el futuro estará el pasado y en el pasado también estuvo el porvenir.
3. Lea lo que el niño le pide, pero también lo que el niño le da. Disfrute de ambas cosas, y que ambos disfruten. Y si el niño quiere leerle algo a usted, déjelo hacer, incluso cuando el niño todavía no sabe leer.
4. Lea en el espacio y en el tiempo adecuados. No se desubique. En el caso en que lea con el niño por las noches: nunca se duerma usted antes que él.
5. Al seleccionar la lectura, piense en el niño con el que va a leer, pero no haga caso a las categorías, ni a las clases, ni a las edades, ni a los tamaños. El único que puede ser caprichoso en cuanto a elegir la lectura es el niño, no usted.
6. Lea todo lo que venga, pero también todo lo que se va. Piense que toda lectura es una encrucijada.
7. Lea con el niño sólo cuando está seguro de dos cosas: que no tiene ninguna otra tarea más importante para hacer y que leer con él no representa una tarea para usted. Si no está seguro de eso, igual es mejor que lea con el niño a que no lo haga.
8. Lea con el niño como si fuera la última vez que va a hacerlo, y también como si fuera la primera.
9. Lea con el niño como si usted fuese uno de esos bambúes —conocidos como Cañas de la India— que florece y produce semillas una vez cada 120 años para luego morir. Piense que esos bambúes florecen todos juntos y a la vez, y que alguna de las semillas que lanzan logrará evitar a los depredadores para poder reproducir la especie. Si esto no lo convence, piense que esos bambúes igual se propagan de forma constante, produciendo nuevos brotes a partir de rizomas subterráneos.
10. Lea con el niño como si estuviese ayudando a un ciego a cruzar la calle. La fraternidad, o el amor filial, tienen algo que ver en eso, aunque luego de cruzar la calle, usted seguirá su camino personal y el niño (como el ciego) avanzará por el enigma de sus recónditas distancias.
11. Si cuando está leyendo con el niño éste lo interrumpe, detenga la lectura y preste atención a lo que surge. Piense que no todo lo que van leyendo está escrito en el libro. Las digresiones son propias de una lectura imaginativa. Atrévase a ir más allá de la letra o a volver desde lo escrito a la realidad: piense que la imaginación antecede a la escritura y también la desborda.
12. Piense que el acto de lectura es un modo de comunicación que trasciende lo que un texto dice o ilustra. Si la lectura hace ruido en la comunicación, déjela de lado. Sepa cuando es el momento adecuado para dejar de leer al niño.
13. Si realmente está dispuesto a leer con un niño, hágalo como le dé la gana: no siga ninguna instrucción al respecto. Manténgase en sus trece."

Ele falou tudo isso (e muito mais) numa mesa redonda da qual participou em maio deste ano.  Adorei o blog dele e recomendo a visita.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Frustração ou Felicidade?

Depois de muito enrolar, finalmente propus para o Pedro que lêssemos juntos um livro. Precisava comprovar aquilo que venho pregando – que a leitura compartilhada é muito gostosa e proveitosa. Que essa experiência é válida para qualquer idade e que ler junto estreita os laços.

Ler para e com a Luísa é bem fácil porque ela, apesar de já ter suas preferências literárias, aceita bem nossas recomendações e sugestões. Para ela, a experiência de ler junto ainda está mais ligada ao fato de estar em companhia de um de nós (pais, irmão ou avós) do que ao fato de estarmos compartilhando uma obra literária. Acho que por isso o que ela mais gosta é de fazer essa leitura compartilhada à noite, antes de dormir. Ela é meio medrosa, não gosta nada do escuro, por isso acho que esse momento traz tranquilidade e uma dose extra de segurança para “enfrentar” o momento de adormecer sozinha. O caso é que ela está, certamente, mais interessada na proximidade física do que na apreciação literária em si.

Já o Pedro quer a maior distância física possível de nós! Quer dizer, não é bem assim. Tem dia que ele acorda inspirado e sai distribuindo abraços apertados a torto e a direito. Nesses dias a gente aproveita ao máximo! Mas beijo, por exemplo, ele prefere mesmo é das namoradas. E esse negócio de chamego com pai e mãe está totalmente fora de questão. Ai, que saudade...

Bom, mas fato é que o Pedro é um cara muito bacana e quando expliquei que queria escrever sobre ele no blog ele aceitou que eu lesse um livro para ele. Só para me ajudar. Só para me dar assunto. Interessado na minha leitura ele não estava muito... mas topou mesmo assim. E para fazer a minha parte eu deixei que ele escolhesse o livro que queria. Lá volta ele com nada mais nada menos que as 670 páginas das Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay, de Michael Chabon. Achei lindo porque ele escolheu um livro que eu já tinha recomendado para ele várias vezes e porque ele sabe que é um livro que eu adoro. Achei lindo mesmo... mas até suspirei quando vi. É que esse é um livro com uma linguagem super sofisticada, sentenças bem compridas, vocabulário rebuscado, daqueles beeeem difíceis de ler mesmo. Além disso, o Michael Chabon é mestre em lançar provocações, em costurar o enredo de um jeito que de vez em quando deixa a gente totalmente sem fôlego. Como é que o Pedro iria entrar nessa proposta se eu estivesse lendo para ele? Como é que eu saberia quando parar, onde pausar, para ele poder digerir o que tivesse que ser digerido?  Para ele refletir sobre o que tivesse vontade/necessidade?

Eu nunca tinha pensado em nada disso antes. Nunca tinha pensado que tem livro que simplesmente... não dá para ser lido em voz alta! Aliás, se alguém tivesse me dito isso antes daquela noite eu teria negado convictamente. Sempre tive prá mim que qualquer leitura poderia ser desfrutada a dois. E foi por isso que, apesar de meus temores, me pus a ler para o Pedro.

Já disse que meu filho é um cara muito bacana? Pois então. Ele ouviu minha leitura atentamente – até desligou a tela do computador! – durante três dias seguidos. Eu fiquei na maior ilusão, achei que íamos nos sentar juntinhos na cama dele, mas ele ficou na cadeira mesmo. Apesar disso, me ouviu com o maior cuidado e à cada capítulo me confirmava que estava gostando da história e que queria continuar.

Quem pulou do barco fui eu. Simplesmente fui deixando para depois, para mais tarde, para amanhã e assim os dias foram passando e agora já faz três semanas que não pegamos no livro.

Por que? Simplesmente porque percebi que não estávamos curtindo. Enquanto lia, o Pedro me escutava com a maior atenção, mas não sei se ele estava fazendo aquilo por ele ou por mim. E leitura assim não vale. Mesmo quando é compartilhada tem que ser curtida pelas duas (três, quatro, dez) partes – por todos envolvidos no processo! Por isso abortei o projeto.

Foi bastante frustrante reconhecer que minha investida não deu certo. Eu queria TANTO redescobrir o prazer de ler com o meu filho! Mas (ainda bem que o mas existe...) talvez eu tenha que reconhecer também que esse momento passou. Que temos personalidades leitoras diferentes. Que já somos leitores totalmente independentes?... Não sei. Preciso elaborar melhor isso.

O bom da história é pensar que o Pedro não precisa mais de mim para ler. Apesar da nossa tentativa não ter dado certo, ele lê muito e sempre. De presente, noutro dia, me pediu uma “assinatura” num site de áudio-livros. Recebe um crédito por mês e baixa os livros no computador. Daí pode gravar em cd, passar para o mp3, mp4, sei lá mais o quê. Então – quantos meninos de 15 anos PEDEM livros de presente hoje em dia?

Acho que o importante é isso aí mesmo. Reconhecer a felicidade, mesmo na frustração. Meu filho é um leitor e tanto e tenho certeza que eu contribuí muito para a sua formação leitora. E quem sabe? Talvez com um outro livro possamos retomar o projeto...

domingo, 19 de setembro de 2010

Mensagem de Francesco Tonucci

Amo o Frato e adorei o que ele disse numa palestra que fez em Xixón na Espanha no começo do mês.

“La cultura de la infancia. Escuchar a los niños y a las niñas”
(extrato)

“Yo creo que la escuela tiene que hacerse cargo de todo el conjunto cultural y hacerse cargo de construir con los niños los cimientos antes de los aprendizajes. La lectura es uno de ellos. La propuesta es muy sencilla: hay que leer a los niños. O mejor, hay que leer. Los niños necesitan encontrar adultos que leen. Frecuentemente, maestros me dicen: “¿Cómo leer? Yo no tengo tiempo, no puedo”. Ya sé que es difícil la condición especialmente de las maestras que, además de la clase, tienen la familia. Lo entiendo, lo puedo justifi car, pero sigue siendo imposible para una persona que no necesita leer, enseñar a leer. No funciona. Los niños necesitan encontrar, por primera vez en su vida probablemente, personas que leen y que no pueden resistirse a leer. Y leen literatura, porque leen por placer. Y esto se manifi esta, esto se nota. Invitar a los niños a un mundo de libros, no importa la edad, que sean de ocho meses o que sean de tres años o cinco años, la escuela debe ser lugar donde hay libros, donde se ven libros, se tocan libros, se respetan los libros. No se usan como juguetes, se usan como libros.
Y por fin la propuesta más simple: dedicar un tiempo a la lectura a los niños. La propuesta que yo hago es un tiempo fijo cada día. Puede ser, pongamos, un cuarto de hora, veinte minutos. Si queréis con un despertador, que sea riguroso y que termina. Esto especialmente si queremos hacer una experiencia fundamental que es leer libros, no cuentos. No digo que los cuentos no valgan, se puede hacer un poco, pero lo importante es comprometernos a leer libros por muchos días. Enseguida, retomándolo donde lo dejamos ayer, con los niños que dicen: “No, por favor, que siga…” No, tenemos que parar. Y tenemos que esperar a mañana, porque esperar también forma parte de la cultura de la lectura. Si no lo habéis probado, podéis vivir emociones únicas, porque un grupo de niños escuchando a un adulto que lee (cuidado, que lee bien). Hay que prepararse. No tener la presunción de que, como somos maestros, podemos ponernos frente a un libro no importa cómo. Hay que prepararse. Como hace un actor. Pero la emoción que suscita la lectura vale todo el esfuerzo que nosotros hacemos. Dedicar un tiempo fijo a la lectura”.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Leitura em momentos de crise

Penso que realmente não há como falar em leitura compartilhada sem falar em leitura individual, daquela que a gente se abandona dentro de um livro e some da face da terra.  Ou mesmo da leitura que se faz sozinho, dia a dia, quando se lê um aviso, o jornal, uma placa ou um bilhetinho deixado pelo marido.  A verdade é que ler é um ato absolutamente solitário.  Compartilhar a leitura é fazer uma ponte, mostrar um caminho que um dia o outro vai trilhar sozinho.  Porque no fundo, no fundo, o intuito é que cada um se enxergue leitor e perceba que aquilo pode ser feito só.  Acho que já citei isso antes, mas repito aqui porque vale a pena ser repetido.  A Heloísa Seixas diz que "ler é o encontro de duas solidões" - do leitor e do autor do texto (seja ele qual for).  Hoje eu vinha no carro voltando de viagem e lendo tudo quanto era placa pendurada na beira da estrada.  Enquanto lia pensava: alguém escreveu isso.  Alguém pegou essa madeirinha, a tinta, o pincel e pintou "Paradão do Abacaxi" nessa placa.  Viajei.

Mas nem é disso que eu quero falar.  Hoje a Luísa acordou com uma baita dor de estômago.  Ainda não conseguimos descobrir o que foi que aconteceu, mas ela acordou mesmo bem ruinzinha, com a cara amarela e muito infeliz.  Não queria dar remédio nenhum porque não conseguia definir que dor era aquela por isso depois de tentar sem sucesso as soluções mais óbvias: mandar ir ao banheiro, fazer massagem na barriga e botar no colo, ela resolveu ir se deitar de novo.

Durante o café da manhã o Felipe e eu decidimos que deveríamos cancelar os planos de passeio para levá-la ao pronto-socorro, afinal a coisa parecia séria.  Assim que terminei de comer fui dar uma espiadela para ver se ela tinha dormido de novo.  Que nada.  Cheguei bem quietinha na porta e só consegui ver a cabecinha levantada prá fora da coberta, a mocinha de bruços, apoiada nos cotovelos... lendo.  Estava tão longe que nem ouviu da primeira vez que eu perguntei se tinha melhorado da dor de barriga.  Da segunda vez ela me olhou e respondeu:
-Já melhorou...  tá bem fraquinha, mas acho que daqui a pouco já vai passar.
Que coisa...  Ela leu a dor prá longe.  E continuou lendo até que a dor desapareceu.

É claro que essa historinha (real!) tem a ver com as leituras que ando fazendo.  Parece que tudo aqui em casa sempre acontece a propósito dessas leituras.  Sincronicidade?  O livro do momento se chama "A Arte de Ler ou Como Resistir à Adversidade" escrito pela antropóloga francesa Michele Petit.  Vou copiar aqui um pedacinho do texto da orelha do livro para explicar o trabalho fantástico que ela fez.

"... Partindo de experiências colhidas pessoalmente ou por meio do diálogo constante com leitores, meidadores de leitura, bibliotecários, professores, psicanalistas, escritores e animadores culturais de várias partes do mundo - mas sobretudo da América Latina - , Michèle Petit apresenta aqui diversas experiências de leitura compartilhada desenvolvidas em regiões afetadas por conflitos armados, desequilíbrio social, migrações populacionais forçadas ou acentuada deterioração das condições de vida."

Não canso de me surpreender com o poder da leitura, principalmente da leitura literária.  Li em algum lugar (e agora não me lembro onde de jeito nenhum) que "o leitor é um caçador que percorre terras alheias."  Nessas terras nos curamos, nos resolvemos, sobrevivemos.  Em maior ou menor grau, na leitura nos refazemos.  Primeiro acompanhados por alguém que nos empresta seus olhos, sua voz e seus saberes de leitor até que nós mesmos, sozinhos, somos capazes de espantar nossas dores prá bem longe.  Só com um livro.

E viva o google: o autor da frase ali de cima é o sr. Michel de Certeau, de quem eu nunca tinha ouvido falar antes na vida.  Agora vou ter que ler sobre ele na wikipedia.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Releituras

Sei bem que o leitor favorito da Luísa é o Felipe e já estou bem conformada com isso.  Eu sinto só uma pontinha de ciúmes, mas fico bem feliz de saber que eles tem essa conexão tão especial.  Só tenho oportunidade de ler com a Lulu mesmo quando o Felipe não está em casa na hora dela ir para a cama - por isso o livro do Pinóquio está durando tanto.  Ah, sim, porque minha  filha escolhe um livro diferente para cada leitor.  Com o Felipe ela estava lendo Reinações de Narizinho, do Monteiro Lobato e comigo o Pinóquio, do Carlo Collodi.  Cada qual com o seu livro, não vamos misturar as coisas!

No fim de semana vi os dois procurando um dos livros da série do Lobinho, do Ian Whybrow, com tradução do Carlos Sussekind.  Daí perguntei porque eles iam ler aquele livro de novo se já tinham lido ele antes.  Os dois me olharam com a cara mais desentendida do mundo e me explicaram, como se fosse óbvio, que já fazia muuuuuito tempo que tinham lido aqueles livros.  Queriam ler de novo, oras.



Como é que eu pude ser tão obtusa?  Eu mesma vivo justificando a existência de tantos livros em casa assim: não sei nunca quando vou ter vontade de reler este ou aquele título.  Tenho que ter todos os meus favoritos à mão para qualquer emergência!  A razão para a escolha da Luísa era realmente óbvia: as histórias do Lobinho são divertidíssimas!  Dá prá ler muitas e muitas vezes e desfrutar sempre.

Quando eu estava dando aula eu amava os momentos em que me sentava no chão para ler para meus alunos.  Pelo menos uma vez ao dia nos reuníamos para desfrutar juntos de uma história qualquer.  Geralmente escolhia para ler para eles um livro em capítulos, que era para ficar mais emocionante!  Mas o interessante era que entrava ano, saía ano e eu acabava lendo sempre os mesmos livros para as turmas.  As aventuras da Pippi Meialonga, da Astrid Lindgren eram um grande sucesso, assim como os livros do Roald Dahl.  As Histórias de Dragão da Ruth Stiles Gannett costumavam ser uma surpresa emocionante e era sempre o primeiro.  Em tantos anos de sala de aula, nunca me cansei de ler e reler os mesmos livros.

Não foi Jorge Luis Borges quem disse que preferia reler do que ler?

Ontem à noite o Felipe não estava aqui para colocar a molecada na cama, mas eu não li para a Luísa.  Quando entrei no quarto dei com ela absorta na leitura do livro do Lobinho (nem sei qual deles).  Ela estava em pé, ao lado da cama, tão entretida que tinha se esquecido de se deitar.  Em silêncio, puxei o edredon.  Perguntei se ela não queria entrar na cama, ela deu uma risadinha, pulou para dentro dos lençóis, mas não me respondeu.  Ficou ali, totalmente perdida na história até eu pedir para ela desligar o abajur e ir dormir.

Histórias do Lobinho (de Ian Whybrow)
Lobinho na Escola de Enganação
Diário das Façanhas de Lobinho
O Terror Domesticado
O Detetive da Floresta

Histórias da Pippi Meialonga (de Astrid Lindgren)
Pippi Meialonga
Pippi a Bordo
Pippi nos Mares do Sul

Histórias de Dragão (de Ruth Stiles Gannett)
O Dragão de Meu Pai
Aderbal e o Dragão
Os Dragões da Terra Azul

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pinóquio de Carlo Collodi

Há dias que a Luísa e eu estamos lendo juntas As Aventuras de Pinóquio escrito por Carlo Collodi e traduzido pela Marina Colasanti.  Tem sido uma leitura incrível.  Minha geração cresceu com a versão animada do Walt Disney e por muitos e muitos anos acreditei que “aquele”, o filme, é que fosse a história original.  Quando descobri o livro não tive a menor curiosidade de lê-lo...  Aliás, foi por ocasião do lançamento de outra versão para o cinema que eu me dei conta da existência do Sr. Collodi.  Aluguei o filme Pinóquio para assistir com o Pedro, na época ainda pequenininho, e fiquei chocada com um Pinóquio tão arteiro e encrenqueiro.   Lembro que foi por então que percebi, ou acordei para o fato, de que muitos de meus desenhos favoritos, lembranças maravilhosas de infância, eram na verdade, adaptações para o cinema de grandes clássicos da literatura.

É interessante essa história de ‘clássico’.  O Ítalo Calvino diz que “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.  Enquanto leio o Pinóquio com a Luísa percebo o quanto isso é verdade.  Rimos, sofremos e nos divertimos imensamente a cada capítulo por isso é tão difícil acreditar que esse livro tenha sido escrito em 1881 (a primeira edição é na verdade de 1883).  As imagens da época abundam e a Luísa pára a cada quanto para perguntar coisas do tipo: “O que é uma taverna?  O que é um purgante?”  No entanto, a emoção da aventura, os sustos e os sobressaltos, tenho certeza de que são os mesmos que sentiam as crianças lá do século 19 enquanto liam os capítulos publicados num jornal italiano da época.   Não canso de me surpreender com a “atualidade” das aventuras do boneco de madeira.

Enquanto a Luísa e eu desfrutamos de mais uma história juntas, me pergunto por que eu nunca li As Aventuras de Pinóquio para o Pedro.  Ele teria gostado tanto!  Mas àquela altura eu não sabia tudo o que sei hoje e nem conhecia o que conheço hoje sobre/da literatura infantil.  Uma pena enorme...  Pelo menos eu li outras coisas para ele e acho que consegui despertar no meu primogênito o amor pelos livros e a paixão pela leitura.  Ele tem um gosto bem definido, preferências bem claras e agora está amadurecendo e começando a compartilhar leituras mais adultas comigo.  Tem se aberto a diferentes sugestões de diferentes estilos literários dos que ele está acostumado a escolher para ler.  Estou pensando aqui quais os clássicos que eu gostaria de ler com ele (ou pelo menos recomendar para ele).  Tenho pânico da história das “leituras para vestibular” e do massacre que o ensino médio faz com a literatura... mas isso é assunto para outro dia.

 Agora vou rever minhas prateleiras e procurar o que me falta ler.  A lista é enorme, mas estou cheia de vontade e tenho ótima companhia.  O próximo livro para compartilhar com a Lulu é o Peter Pan e Wendy, do J.M Barrie.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mãe, lê prá mim?

ebAcabei de assistir a um vídeo super bacana feito pelo Instituto Pró-Livro.  Mostra depoimentos de várias pessoas que contam como começaram a ler.  Muitas delas mencionam a família, as mães principalmente, e o contato que tiveram com os livros desde cedo.  Parece uma coisa óbvia, mas não é.  Com certeza, quem cresce com livros aprende a amar os livros.  Mas estar perto deles não é o bastante...  Quantos de nós lemos religiosamente com os nossos filhos?  Com que frequência?

Não sei quando foi que eu comecei a ler diariamente (ou quase diariamente...) com o Pedro nem com a Luísa.  Nem faz tanto tempo assim que eles eram pequenininhos, mas eu realmente não me lembro quando foi que comecei.  Nem sei dizer se os dois tiveram a mesma experiência, se foram expostos aos livros do mesmo jeito, na mesma fase.

A primeira lembrança de leitura com o Pedro que eu tenho são dos livros para bebês, aqueles de cartão bem grosso e duro, que eu comprava nos clubes de livro da escola onde trabalhava em Brasília.  Podíamos fazer pedidos a cada três meses e eu sempre queria comprar todos!  Também tinha a feira do livro da escola que acontecia uma vez por ano.  Lá os livros também saíam muito bem de preço por isso eu aproveitava.  Além disso o Pedro adorava o evento, cheio de dança, música e contação de histórias.

Lembro que quando estava grávida da Luísa ganhei da minha amiga Ana Luiza um livro do Dr. Seuss, chamado Oh Baby, the Places You'll Go.  Era uma adaptação de outro título bem conhecido dele, Oh, the Places You'll Go, para ser lido para a barriga!  Amei a ideia de ler para a Luísa ainda não nascida, mas confesso que não me lembro de ter lido mais nada para ela enquanto estava grávida.

Há bem pouco tempo um amigo muito, muito querido teve seu primeiro neném e logo depois que a bebê chegou em casa eu perguntei:
-Já começou a ler prá ela?
-Ah, Sil, é muito cedo!  Ela não vai entender nada!

Bem, lá isso é verdade.  Acho que bebê não entende mesmo a trama, com todos os seus reveses, mas o bebê entende sim a entonação da voz, a emoção que a gente passa enquanto lê, o calor do aconchego do pai ou da mãe.  Ou será que meu amigo acha que a filhinha dele entende o que ele diz?  Os significados a gente vai construindo aos poucos, mas o sentimento do que se diz (ou do que se lê) está todo dentro do discurso e é devidamente entendido desde o princípio.

A Lucila Pastorello é uma fonoaudióloga de São Paulo que vem estudando a leitura em voz alta há bastante tempo.  Ela escreveu um capítulo para o livro A Vida Que a Gente Quer Depende do Que a Gente Faz, (publicado pelo Instituto Ecofuturo) que fala justamente sobre a leitura para crianças pequenas.  Aí vai o link para descobrir 7 Bons Motivos Para Ler Para as Crianças.  (A Lucila escreve de um jeito tão lindo que vale mais a pena beber diretamente da fonte).

http://www.ecofuturo.org.br/comunicacao/publicacoes/porque_sim

No vídeo que assisti havia depoimentos de duas ou três mães que contavam ter lido para seus filhos enquanto eles ainda estavam na barriga.  Tenho amigos que começaram a ler para os filhos desde o dia em que os pequenos nasceram.  Euzinha não me lembro mesmo quando comecei, mas meus filhos não tiveram essa sorte.  Nós já lemos muito juntos, já desfrutamos de muito livro bom!  É muito legal, por exemplo, reler com a Luísa livros que eu já tinha lido com o Pedro e depois perceber que ele estava com uma orelha ligadona.  Mas se eu pudesse voltar o tempo eu teria começado, como a mãe do vídeo, a ler para eles desde o dia que me descobri grávida.

O importante, no entanto, é começar.  Seja quando for.  Não é fácil, eu sei!  Estou aqui nessa empreitada, tentando documentar essa experiência com toda honestidade e por isso afirmo que não é fácil.  Mas é tão gostoso...  A leitura tem poder transformador e não há herança melhor que se possa deixar para um filho que o amor pela leitura.

Só para terminar - aqui vai o link para quem quiser assistir o vídeo.
http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=1166

Um pedacinho do Oh Baby, the Places You'll Go:
"...the words I am saying you hear in your heart, and know that I wish you the very best start..."

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Só na vontade

Estou louca de vontade de ler o Pinóquio do Collodi que compramos na semana passada, mas minha filha nem tchum.  Só quer saber da Turma da Mônica Jovem.  Fiz a proposta para o Pedro, mas ele se limitou a arquear uma sombrancelha.  Não vai dar para mais para esperar!  Vou ler sozinha mesmo.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Surrupiando um momento

Em meio a milhares de caixas de mudança, um monte de pó e várias listas de tarefas é difícil conseguir desacelerar o bastante para compartilhar um momento gostoso de leitura.  Por isso nesses últimos dias cada qual aqui em casa fez a sua, sozinho, deitado na cama antes de dormir.  Apesar de não compartilharmos leituras temos pelo menos conversado sobre leituras o que também é uma delícia se fazer.  E por mais que a gente se conheça e conheça os gostos um do outro, sempre aparece alguma novidade, alguma surpresa nessas conversas.

Outro dia o Pedro e eu tivemos um papo super bacana sobre novelas gráficas.  Eu estava perguntando qual era a opinião dele a respeito de um projeto que eu estava escrevendo.  O projeto tinha a ver com a formação de leitores e eu queria saber o que o Pedro achava das iniciativas que eu estava propondo para "provocar" jovens não-leitores.

Eu dizia que era uma pena a maneira como alguns professores dão aula de literatura e tornam uma coisa tão fascinante em tarefa maçante e tediosa.  Não, não quero generalizar, mas isso ainda acontece SIM.  E se os adolescentes não desenvolveram antes o interesse pela leitura, não é fazendo questionários intermináveis ou análises incansáveis sobre um livro que alguém vai conseguir despertar esse interesse.  Acredito piamente que temos que aproximar livros e leitores.  Já não me lembro onde eu li isso, mas "existe um livro para cada leitor."  Quanto mais alternativas oferecermos, mais chance haverá do leitor encontrar-se com o "seu" livro.


Perguntei para o Pedro o que ele achava de participar de um grupo de leitura de novelas gráficas.  Poucos dias antes dessa nossa conversa eu tinha lido dois livros maravilhosos que o Pedro também gostou bastante.  Duas novelas gráficas.  A primeira é uma linda autobiografia chamada Retalhos do cartunista Craig Thompson.  A segunda me lembrou o excelente Maus, de Art Spiegelman, pelo tema do holocausto.  Chama-se A Busca e foi publicada pela Cia. das Letras.  Os autores são Eric Heuvel, Ruud van der Rol e Lies Schippers.  Os dois títulos são realmente muito bons - eu adoraria trabalhar com qualquer um deles dentro da sala de aula.  O Pedro achou a ideia interessante e disse que ele toparia participar de um grupo de leitura como o que eu estava propondo.  Mas eu percebi que enquanto falávamos sobre isso a cabeça dele já ia pensando noutras coisas...


Gostei muito mesmo dessas duas leituras e comecei a trazer para a conversa várias outras que já curtimos juntos (ou não) aqui por casa.  Lembrei do maravilhoso Persépolis da Marjanne Satrapi - uma aula sobre o Irã - que foi lido num tapa, quase que no mesmo dia, pelo Pedro, pelo Gabriel, meu sobrinho, e por mim.  Persépolis é daqueles livros ilargáveis, não dá para parar de ler antes de terminar.  Lembrei também do D. João Carioca, da historiadora Lilia Moritz Schwarcz e do cartunista Spacca, que uma professora do Pedro recomendou há uns dois anos e que todos nós em casa adoramos.  Fiquei pensando o quanto essas leituras foram ricas o quanto eu gostei delas.  Acho que às vezes a gente esquece de explorar linguagens diferentes e estilos diferentes de literatura.  É uma pena porque quem acaba saindo perdendo é a gente mesmo.

Bom, mas o mais gostoso da história foi a aula que o Pedro me deu sobre novelas gráficas.  Eu tinha mesmo percebido que ele estava falando comigo sobre o grupo de leitura, mas pensando em outra coisa bem diferente.  Assim que eu dei uma brecha ele começou a me dar explicações...  Fico sempre maravilhada com os saberes do meu filho.  Eu sei que ele sabe muito sobre muitas coisas, mas é sempre uma surpresa quando ele desata a falar com tanto conhecimento de causa e tanta propriedade.  Ele ficou um tempão me contando sobre os quadrinhos favoritos dele: V de Vingança e Neuromancer.  Nem acho que esses dois tem muito a ver comigo, mas foi ótimo "trocar de lugar" com o Pedro.  Geralmente sou eu que fico explicando as coisas prá ele na hora do jantar (talvez por pura metidez e tagarelice).  Mas ultimamente as trocas tem sido mais regulares e essa conversa, especificamente, foi realmente um momento de aprendizagem para mim.    

Meu filho está mesmo virando gente grande.  Nem vou começar a falar sobre isso porque afinal de contas não é disso que esse blog trata.  Mas é delicioso perceber que os livros nos aproximam.  Não que nós não tenhamos os nossos momentos de conflito - ele tem quinze anos e eu sou a mãe dele...  Mas ainda bem que temos esses gostos parecidos que servem para reconciliar e estreitar os laços.  Quer coisa melhor?

Mais um livro lindo-maravilhoso que vale à pena ser lido em qualquer idade:  A Invenção de Hugo Cabret, do Brian Selznick.  Imperdível!  E ainda não li, mas descobri outro dia que existe uma versão em quadrinhos para Em Busca do Tempo Perdido.  Proust em quadrinhos é demais!  Mais um para a minha lista...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A avó que curte mangá

Ontem à noite estava conversando com uma grande, enorme!, amiga que está morando no Japão e ela me contou uma coisa linda que tenho que escrever aqui.  A mãe da Paula é filha de japoneses imigrantes, nasceu no Brasil e quando era jovem falava bem, lia e escrevia o japonês.  Mas com o passar dos anos perdeu o contato frequente com a língua nativa dos pais.  Há dois meses a Paula se mudou para Osaka e resolveu procurar para a sobrinha, fã número 1 de mangás, algumas revistas em japonês.  Tudo para incentivar a sobrinha querida a continuar seus estudos de japonês.  O pacote com vários mangás chegou em São Paulo na semana passada e a sobrinha pirou!  Ficou tão feliz com o presente que carregou os mangás prá casa da avó, pro almoço de domingo.  A avó se comoveu com o interesse da neta pelas revistas.  Sentou-se ao lado dela para que pudessem ler, juntas, os mangás em japonês.

Mais tarde essa avó maravilhosa contou para a filha, minha amiga, que ficou muito feliz de ter tido aquele momento com a neta.  Não deve ser tarefa fácil ser avó de uma adolescente - acho que fica difícil achar interesses em comum quando a garotada está com 14, 15 anos.  Quem diria que um mangá proporcionaria esse tipo de aproximação entre avó e neta?  A mãe da Paula disse que ficou feliz também com o fato dela ter conseguido se lembrar tão bem da língua dos pais.  Foi mesmo um momento de leitura mágico que juntou pelo menos quatro gerações dessa família: os bisavós japoneses, a avó leitora, a tia que mandou os mangás lá do outro lado do planeta e a bis/neta-sobrinha.

Mas a história não pára por aí.  Naquela tarde de domingo tinha um jogão no Morumbi e a família toda da Paula, alucinada pelo São Paulo que é, foi prestigiar o time no estádio.  A sobrinha não teve dúvida - levou o mangá junto.  Pro jogo de futebol no Morumbi.  Só quem conhece essa família e sabe o nível de 'comprometimento' deles com o futebol entende o que isso significou...

Em tempo: esqueci de perguntar para a minha amiga o que a mãe dela achou do mangá.  Da próxima.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Para quem sabe ouvir o outro

Estava agora de manhã pensando numa coisa que aconteceu ontem e que eu acho que vale a pena contar aqui.  Ontem teve feira do livro lá na escola da Luísa e ela e as amigas juntaram os dinheirinhos que tinham na mochila para comprar um livro sobre animais do fundo do mar.  Ela estava empolgadíssima com o livro e com o arranjo que ela tinha feito com as amigas.  Combinaram de levar o resto das mesadas hoje para comprar os outros dois títulos da coleção que traz ilustrações em 3D.  Cada uma fica com um dos livros em casa e a cada quanto elas vão trocando - assim têm a possibilidade de curtir toda a coleção.  As três pensaram em todos os detalhes.

A Luísa foi contemplada com o livro que elas compraram em conjunto ontem e por isso vinha no carro louca para chegar em casa e tirar o livro da mochila.  Falava sem parar do livro e contava as coisas que já tinha lido lá.  "Sabe que o tubarão fica se mexendo sem parar porque isso ajuda ele a respirar?"  Eu sorria e escutava.  Estava achando a história toda uma belezura.

Chegamos em casa.  E o que foi que eu fiz?  Sentei na frente do computador, liguei a máquina, puxei minha agenda e comecei a olhar emails e fazer telefonemas.  Estamos de mudança e eu tinha uma lista de coisas para fazer, mas isso não é desculpa!  A Luísa estava lá, louquinha para me mostrar o livro, louquinha para ler comigo e eu?  Ignorei solenemente o desejo dela.  Agora ela está lá na escola e eu aqui, de novo sentada na frente do computador, morrendo de culpa e de vontade de poder voltar o tempo.

Em inglês existe um termo que educadores usam quando aparecem situações de ensino não-planejadas, mas que são perfeitas para se explorar algum conceito.  São os "teachable moments" que só quem é sensível aos desejos dos alunos consegue enxergar e aproveitar.  Um dos maiores elogios que já recebi de uma diretora foi por saber explorar esses "teachable moments" na minha sala de aula.  Então como é que eu pude ser tão obtusa a ponto de não enxergar esse momento especial que a Luísa me oferecia ontem?  Ai, ai, mais um episódio para o livro dos traumas.  

Ainda bem que essa história tem final feliz.  Quem veio salvar a pátria, sentado num cavalo branco, foi o Felipe.  Depois de desistir da mãe que só sabe ficar na frente do computador e mandar tomar banho, estudar violino e fazer tarefa, a Lulu apelou para o pai.  E ele foi todo ouvidos, atenções e carinhos.  Ainda bem!  É claro que eles se sentaram juntos para ler os mistérios do fundo do mar.  Ela foi dormir feliz, tenho certeza.

Também tenho certeza de que quando a Lulu for grande, as lembranças de leitura mais marcantes dela vão ser dos momentos que dividiu com o pai.  Eles dois têm um entendimento quando lêem juntos que é uma maravilha de se observar.  Entram juntos dentro dos livros e ficam lá, perdidos, fora do mundo.  Às vezes dá uma pontinha de inveja, mas eu fico mesmo é muito feliz de ver essa conexão.  

Toda criança merece ter uma conexão assim na vida.  Com pai, mãe, vô, vó, tio, tia, irmão, qualquer um!  Nunca vou me esquecer do meu irmão mais velho, o Tonzé, lendo enciclopédias de animais para os nossos irmãos que são dez anos mais novos.  Eles ficavam horas e horas e horas olhando as figuras e falando sobre os animais.  Era quase um ritual.  O Tonzé chegava em casa na hora do almoço e os meninos puxavam a enciclopédia.  Momentos mágicos.  Inesquecíveis.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ler é...

Li hoje no site do leer.es essa lista com dez ideias para criar bons leitores.

Compartilhar
O prazer da leitura é contagiante quando lemos juntos.  Vamos ler histórias, romances, novelas, quadrinhos, na internet...

Acompanhar
O apoio da família é necessário em todas as idades.  Não abandonemos nossos filhos quando eles aparentemente já sabem ler.

Propor, não impor
É melhor sugerir do que impor.  Vamos evitar tratar a leitura como uma obrigação.

Respeitar
Os leitores tem direito a escolha.  Vamos respeitar seus gostos e como estes evoluem.
 
Dar exemplo
Nós adultos somos um modelo de leitura para crianças e jovens.  Vamos ler diante deles e mostrar o quanto desfrutamos de nossas leituras.
 
Estimular
Qualquer situação pode proporcionar motivos para se aproximar dos livros.  Deixemos livros ao alcance de nossos filhos sempre.

Escutar
Nas perguntas que fazemos às crianças e adolescentes está o caminho para seguir aprendendo.  Vamos prestar atenção em suas dúvidas.

Pedir conselho
A escola, as bibliotecas e as livrarias com seus especialistas serão excelentes aliados.  Vamos visitá-los sempre.

Ser constantes
É importante reservar um tempo para ler todos os dias.  Vamos procurar que estes sejam momentos de relaxamento, com disposição para a leitura. 

Organizar-se
A desorganização pode atrapalhar a leitura.  Vamos ajudar nossos filhos a organizar seu tempo, sua biblioteca...

Estou adorando explorar esse site que tem uma área reservada para as famílias.  Quem estiver curioso é só clicar:

terça-feira, 11 de maio de 2010

Mais histórias de avô e avó

Ler o livro Histórias de Avô e Avó do Arthur Nestrovski com a Luísa está sendo uma delícia.  Ainda não sei porque, mas ela realmente se identificou com ele.  Ontem lemos o penúltimo capítulo antes de dormir e daí eu disse que só faltava mais um.  Ela disse "Aaaaahhhh..."

Por que será que a gente gosta tanto de lembrar de Vô e Vó?  Tem muitos livros bacanas que falam dessas lembranças.  Outro dia minha amiga Adriana me lembrou do Bisa Bia e Bisa Bel da Ana Maria Machado.  Acho que a gente já teve esse livro em casa, procurei para ler para a Lulu, mas não encontrei.  Agora estou louca para pegá-lo lá na Barca dos Livros porque a história é muito divertida e emocionante.

Outro livro bem bacana, mas que sempre me faz chorar é o Menina Nina do Ziraldo.  Ele conta a história da Vó Vivi por quem me apaixonei porque me lembra minha própria avó, minha Iaia.  Desafio a qualquer um ler esse livro sem fazer brotar lágrimas nos olhos.  Mas não pare na última página - leia também o que o Ziraldo escreve depois de acabar a história - o "making of" do livro e uma linda homenagem às avós do Brasil.
E só mais uma dica de livro maravilhoso, daqueles que faz a gente sonhar, voar, esquecer da realidade.  É Um Cantinho Só Prá Mim da Ruth Rocha.  Conta a história do Pedro que achou um cantinho "só prá ele" na casa da avó - só poderia ser na casa da avó - para "pensar, ficar pensando... pensando... coisas que não existem...  Inventar coisas...  Imaginar coisas..."

Talvez essa postagem não esteja falando muito sobre leituras compartilhadas, mas é que o simples fato de compartilhar alguma coisa tem efeito dominó, como eu já comentei antes.  Uma coisa puxa a outra e de repente estou eu aqui compartilhando mais do que minhas experiências de leitura em família.

E já que eu estou falando de histórias de avô e avó vou contar do projeto maravilhoso que minha amiga Paula Berlinck fazia com os alunos de segundo ano dela lá em São Paulo.  Ela lia com a turma delao mesmo livro que eu estou agora lendo para a Luísa.  Depois convidava os alunos a fazer entrevistas com os avós e descobrir mais detalhes sobre as histórias deles.  No final do projeto professora e alunos montavam uma exposição maravilhosa, com mil tesouros de família emprestados, coisas de Vô, Vó, Biso, Bisa...  Cada objeto tinha uma história e assim as crianças aprendiam mais sobre quem eram, de onde vinham.  Tem jeito mais mágico de aprender?

Estou morrendo de saudades de ver esse projeto e morrendo de pena porque a Lulu não teve a oportunidade de ser aluna da Paula.  Mas acho que dá prá fazer um mini projeto aqui em casa mesmo.  Ainda bem que eu tive a oportunidade de aprender com a minha amiga.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Há vários dias que estamos lendo juntos um livro chamado Histórias de Avô e Avó, escrito pelo Arthur Nestrovski que é um músico maravilhoso, um violonista de primeiríssima com talento para fazer um montão de coisas diferentes.  Inclusive escrever livro infantil.  Há uns dias que estamos lendo este livro, a Luísa, o Fê e eu.  Só que não estamos lendo os três juntos, juntos.  De vez em quando o Felipe lê prá Lulu e de vez em quando sou eu quem lê prá ela.  Uma besteira isso.  Deveríamos mesmo era parar de fazer o que quer que seja para curtir quinze ou vinte minutos juntinhos lendo - os três.  E de preferência incluindo o Pedro na história, se bem que ele está bem naquela fase de querer passar loooonge de qualquer coisa com o adjetivo infantil.  Literatura sim, infantil de jeito nenhum.  Mas enfim, acho que esse vai ser o meu próximo desafio.  Transformar esse hábito de leitura compartilhada em leitura em família MESMO.  Todos juntos.  Ao mesmo tempo.


Todo mundo lê muito aqui em casa.  Há livros, revistas, revistinhas espalhados por todos os cômodos.  Mas, não sei porque, somos leitores muito solitários.  Li num livro lindíssimo da Heloísa Seixas chamado Uma Ilha Chamada Livro que "quando um leitor se senta para ler um livro, são duas solidões que se encontram."  Isso é muito lindo, mas vou confessar que eu bem queria que o livro aqui em casa fosse mais socializado.  A gente fala muito 'sobre' livros, troca ideia, opinião, mas eu queria que a gente compartilhasse mais momentos de leitura.  Uma amiga me contou uma vez que na casa dela pais e filhos vivem lendo uns para os outros.  Não que eles leiam sempre juntos, mas quando encontram alguma coisa de que gostam muito sentem uma necessidade enorme de compartilhar.  Eu também sinto isso, mas em vez de ler para o meu marido ou para as crianças, acabo passando o livro (texto, artigo, o que for) para eles e dizendo "Olha que lindo!"  Só que desse jeito a emoção que eu senti ao ler se perde...  porque ela não vai passar pela minha voz, pelos meus olhos, pelo meu corpo.  Fica presa em mim.  Por mais que o outro leitor (quem quer que ele seja) também ache aquilo lindo, a leitura vai ser diferente.  A emoção também.


Eu me pergunto porque nós não temos esse hábito em casa e se é possível mudar isso.  Imagino que sim e que não custa nada tentar.  Já estou aqui fantasiando uma casa cheia de palavras voadoras, onde se lê poesias, crônicas, trechos de livros e, obviamente, artigos sobre futebol o tempo todo em voz alta.  No meio da sala, de pé em cima da mesa, na cozinha, em qualquer lugar!  Vou fazer essa proposta.  Talvez me achem meio doida, mas vou propor de cada um ler para outra pessoa da família alguma coisa que gosta.  Só para ver como a gente se sente.  Depois eu conto como foi.


Mais uma dica - só que essa eu ainda não conheço.  Estava procurando uma imagem do livro do Arthur Nestrovski e dei no site dele na internet.  Descobri que ele tem um lançamento fresquinho:  Agora Eu Era, da Cia. das Letrinhas.  Acho que vale a pena olhar.  Se for parecido com os outros livros dele vai ser tudo de bom!



quinta-feira, 6 de maio de 2010

Por que?

Uma postagem bem curtinha e bem rapidinha só para eu me lembrar por que estou queimando as pestanas de tanto estudar.  Tem muita coisa escrita e estudada sobre a leitura em voz alta e seus benefícios.  Eles são muitos,  mas eu estou aqui matutando: por que?  Se eu tivesse que escolher uma razão dentre todas as outras para explicar esse porque, o que eu escolheria?

Então aí vai: porque é muito fácil.

A relação entre o ato de ler para alguém e os benefícios decorrentes desse ato é absurda.  Uma coisa tão, tão fácil de se fazer, com um resultado tão tremendo.  Não tem desculpa que justifique a não-leitura compartilhada.

Taí.  Já disse tudo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Efeito Dominó II

Estava falando agora mesmo com uma super, super, super amiga que é provavelmente a maior incentivadora desse meu blog.  Valorizo muito tudo o que ela me diz porque sei que a crítica dela é honesta e que além do mais ela é muito exigente.  Depois de nos despedirmos fiquei pensando que a primeira pessoa a "incorporar" todas as minhas sugestões foi a Adriana.  Ela sempre comenta as coisas que eu escrevi e como tem sido a experiência deles, lá do outro lado do Atlântico, de ler juntos.

Há algumas semanas fizeram uma viagem linda, visitando amigos e cidades maravilhosas.  Quando voltaram para casa a Adri me contou que tinha tirado algumas fotos pensando em mim.  Fui correndo ver quais eram e nem precisei procurar muito.  Uma biblioteca pública, liiiiinda de morrer; um filho esparramado num pufe com um livro aberto, completamente desligado do que existia à sua volta; uma mãe com um filho de cada lado, o menino com seu próprio livro aberto no colo, mas com os olhos fixos naquele que a mãe estava lendo e a menina com a cabeça apoiada no ombro da mãe, atenta ao desenrolar da história.

O livro que estou lendo agora se chama Reading Magic e foi escrito por uma autora australiana chamada Mem Fox.  É uma pena que este livro não esteja traduzido para o português ainda.  A Mem Fox diz que a leitura em voz alta, feita entre pais e filhos tem um poder transformador.  Tem um trecho muito lindo no livro em que ela diz o seguinte (numa tradução meio capenga...):

"Quando nos dedicamos a ler em voz alta para as crianças, estabelecemos um vínculo muito forte com elas numa sociedade secreta relacionada aos livros que compartilhamos...  Não se consegue isso apenas com o livro nem apenas com a criança nem tampouco apenas com o adulto.  Só se consegue isso mediante a relação que se estabelece entre os três e que os une numa suave harmonia."

É exatamente essa harmonia que a foto da Adriana lendo com os filhos dela ilustra.  E esse vínculo não se rompe nunca mais...

Cada vez que eu converso com a Adri aprendo alguma coisa nova a respeito dessa experiência de escrever esse blog.  Comecei a escrevê-lo para mim mesma, mas estou gostando muito de compartilhá-lo com outras pessoas, conhecidas ou não.  Obrigada a cada um que deixa aqui um pedacinho de si quando lê minhas palavras e carrega minhas mensagens por aí.

O livro da Mem Fox foi traduzido para o espanhol.  Acho que vale a pena a dica...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Efeito Dominó

Uma semana inteirinha sem escrever aqui.  Não foi falta do que falar, mas andei escrevendo tanto nos últimos dias que meus dedos não aguentaram mais teclar.  Tudo bem, essa semana eu compenso o silêncio da semana passada.  E começo contando que a leitura compartilhada é muito mais poderosa do que a gente imagina e que causa sim efeitos colaterais.  Dos melhores.

Na véspera do feriado de 21 de abril fui pegar a Luísa na escola ao meio-dia.  Quem veio correndo na minha direção foi uma das amigonas dela, uma que faz parte de um trio inseparável e muito, muito bacana.  Veio correndo para me mostrar... um livro.  O livro da Cressida Cowell que foi transformado em filme e que eu já comentei lá atrás.  Pois a Lulu andou levando o livro para a escola - ele tem algumas ilustrações divertidas e um mapa que elas usaram para brincar na hora do intervalo.  A amiga gostou.  Pediu para os pais comprarem.  E quis me mostrar... Será que era só por mostrar mesmo?  Afinal já veio da sala com o livro na mão...  Ou será que ela sabia que a Lulu e eu tínhamos lido o livro juntas?

Não deu cinco minutos me aparece a outra - o terceiro componente do trio calafrio.  Quase não acreditei quando ela puxou da mochila... para me mostrar... o mesmo livro!  Também tinha comprado!  Coincidência demais.  Não tinha razão nenhuma prá mocinha abrir a mochila - ela queria era me mostrar o livro mesmo.  Achei muito engraçado.  As duas amigonas da minha filha curtindo o mesmo livro que nós duas lemos juntas. Foi gostoso demais perceber que a Luísa leva para a escola as leituras que compartilhamos e que pelo menos duas pessoas já entraram, de alguma forma, na nossa brincadeira.

Fiquei foi morrendo de vontade de ler um livro com as três.  Quem sabe da próxima vez que estiverem todas aqui em casa...

Em tempo: a Luísa e eu começamos a ler, na semana passada, o segundo livro da série Como Treinar o Seu Dragão, mas eu não tive nem chance de dar continuidade ao assunto.  Ela me largou na mão.  Não aguentou me esperar para ler e resolveu ler o resto sozinha mesmo.  Já está no capítulo 6.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Acho que sem título mesmo ou Algumas Reflexões

Há dias que não leio com ninguém aqui de casa a não ser comigo mesma.  Bom, teve umas vezes que meu marido leu ao meu lado, principalmente antes de dormir, mas ficou ele com seu livro e eu com o meu.  Acho que não dá prá qualificar isso de leitura compartilhada.

A questão é que chegou o fim de semana, a garotada foi visitar os amigos, fomos fazer uns passeios e eu me envolvi com uma tradução que estou amando fazer.  O fato é que a leitura ficou de escanteio.  Por que será que a gente faz isso?  Sempre que aparece alguma coisa que muda um pouco a rotina deixamos a leitura de lado.  Ou pelo menos deixamos o "ler com o outro" de lado.

Não acho que a leitura compartilhada deva ser uma obrigatoriedade - pelo contrário!  Acho que esses momentos devem ser aconchegantes, divertidos, tudo de mais gostoso.  Daqueles que a gente fica esperando o dia inteiro, desejando que cheguem logo.  Ao mesmo tempo sinto que ler requer um esforço - principalmente por parte do leitor.  Explico:

Há que se pensar um pouco para selecionar o que vai se ler para o outro.  Já contei aqui alguns momentos em que a leitura com meus filhos não funcionou porque o que tínhamos selecionado não era bacana - ou porque o tema não interessava ou porque a linguagem era tão difícil que não dava para acompanhar.  Por isso a gente deve ter um cuidado, um cuidadinho, na hora de escolher.  E também é por isso que a maioria das vezes eu leio para a Lulu livros que eu já conheço.  Assim fica mais fácil sentir o "humor" do dia e escolher o que combina mais naquela hora.

Também facilita na hora da leitura propriamente dita.  Não que a gente precise ensaiar antes, mas não conhecer o texto dificulta bastante a "oralização".  Tropeçar em palavras diferentes e sentenças compridas comprometem a fluidez da narração.  Além do mais, quando a gente já conhece a história sabe bem o que enfatizar, o que destacar de uma forma ou de outra.  Tudo prá ficar mais gostoso.

Por último queria dizer que ler para alguém é uma troca.  O leitor tem que estar com o coração aberto para ela.  Quando a gente lê para alguém coloca um pouco (ou um muito?) de si na leitura. Talvez nem sempre estejamos preparados para isso.  Mas não tenho isso muito claro - aceito opiniões.

Li um texto do Francisco Marques, o Chico dos Bonecos, no fim de semana no qual uma professora falava de suas memórias de aluna:  

"A grande lembrança da minha época de escola são os olhos da minha professora quando lia uma história para a turma.  Os seus olhos transitavam das páginas do livro para a turma, da turma para as páginas do livro, num passeio suave, quase um bailado.  Do livro para a turma, da turma para o livro, sem que a leitura sofresse qualquer tropeço.  Suave bailado, das páginas do livro para a turma, da turma para as páginas do livro...  E eu torcia para que os seus olhos de leitora esbarrassem nos meus olhos de ouvinte - e eles sempre esbarravam e até demoravam uns nos outros.  Cheguei a imaginar, na minha imaginação de menina, que a história também estava escrita nos nossos olhos."

Acho que é por aí.  O esforço consiste em saber ler a história nos olhos de quem escuta.  Psicanalistas de plantão podem fazer suas análises : )

E agora, depois de escrever tudo isso, percebo que o que eu estava sentindo não era culpa por não ter achado uns minutinhos para ler com meus filhos.  O que eu estava sentindo era saudade mesmo.

(mas ela já passou porque enquanto eu estava escrevendo isso aqui a Luísa me chamou para ler prá ela antes de dormir.  Aaaaai, que delícia!)


O texto do Chico dos Bonecos se chama Olhos de Ouvinte e está no livro Muitos dedos: enredos: um rio de palavras deságua num mar de brinquedos.
Editora Peirópolis, 2005.

Um super obrigada à Tania Piacentini que foi quem me apresentou ao texto.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Especial para quem é Vô e Vó

No finalzinho de fevereiro me dei de presente uma ida a Santiago do Chile para participar do primeiro Congresso Iberoamericano de Lingua e Literatura Infanto-Juvenil.  O congresso foi organizado pela Fundação SM e foi uma experiência indescritível.  Ali estavam autores e ilustradores de toda a América Latina e Espanha falando sobre um tema apaixonante: literatura infantil.  Nem preciso dizer que cada fala era uma aula para mim e que aprendi horrores.  Mas o que mais me tocava, cada vez que alguém falava, eram as histórias de como cada um tinha se tornado leitor, as memórias que cada um tinha do momento em que realmente se transformou, começou a se enxergar, como leitor.  Agora, mais de um mês depois, olhando minhas anotações, percebo o papel fundamental que os avós tiveram na história de alguns desses muito bem-sucedidos autores e  ilustradores.

A história do Antonio Skármeta, por exemplo, é de arrepiar.  Com certeza não vou conseguir reproduzir aqui, nem com a mesma eloquência, nem com a mesma elegância e bom-humor de Skármeta, a história que ele contou, mas fiquei encantada com o trajeto tão peculiar desse autor chileno.  Skármeta tinha uma avó iugoslava com quem sempre ouvia o rádio.  Ouviam juntos as novelas e nos intervalos dos episódios, a avó ia fazendo previsões e contando para o pequeno Antonio o que aconteceria a seguir.  Antonio escutava atento enquanto desenhava os heróis e vilões dos melodramas até que um dia a avó apagou o rádio e disse para ele:
-Agora você, Antonio.  Você me conta o resto.

Esse foi o seu debut como escritor.

O autor mexicano Juan Villoro compartilhava o sofá com Skármeta nesse bate-papo que foi a inauguração do congresso.  Ele também comentou a forma fascinante da sua avó contar histórias.  Villoro disse, em referência à importância das avós que contam histórias para seus netos, que o clássico "Era uma vez..." deveria se transformar em "Era uma voz..."

Meus filhos têm muita sorte de ter avós que gostam de contar e ler histórias para eles.  Lembro da Maria Ida contando para o Pedro bem pequenininho uma historinha (que ela inventou) do homem que subiu numa escada muito, muito alta para limpar as estrelinhas que estavam sujas no céu.  A Amanda, que é a abuelita da Luísa, sempre, sempre lê com ela quando a Lulu vai dormir na casa dela.  E quando minha mãe foi visitar a gente em São Paulo há uns dois anos a Luísa pediu para que eu por favor não lesse a Pippi Meialonga porque ela queria que a Vovó Amada lesse naquele dia.  E em todos os outros dias que minha mãe esteve lá com a gente.  Eu também me lembro bem do meu avô Antônio que contava histórias de bruxa para os meus primos e para mim quando íamos passar as férias com ele e minha avó Jeannette em Santos.  Ficávamos os seis primos sentados na sala, olhos grudados no Vôzinho, todos se pelando de medo, mas sem nem piscar.

Não sei se há memória mais gostosa do que memória de Vô e de Vó.  E não sei se existe algum leitor que não tenha memória do momento em que se tornou leitor.  Acho que juntar as duas coisas é poderoso.  Portanto queridos Vôs e Vós por aí, não se esqueçam de incluir os livros infantis nas suas listas de compras.  Visitas às bibliotecas e livrarias são programas deliciosos!  Arranjem um canto bem gostoso em casa e abandonem-se no prazer de ler com seus netos. 

Dicas: já que falei de Skármeta e Villoro aí vão duas dicas.  Quem ainda não leu A Redação precisa ler urgentemente!  O Juan Villoro ainda não foi traduzido para o português (que pena!) mas Las Golosinas Secretas é delicioso.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Textos Informativos

Roubei esse título de um artigo que uma amiga me mandou anteontem.  A Alma Carrasco escreve tudo o que eu gostaria de escrever, suas ideias são claras e seu estilo poeticamente didático.  Mas como ainda não aprendi a escrever lindo como ela, vou escrever aqui sobre textos informativos (e do meu jeito mesmo).

No mesmo dia que recebi o artigo da Alma, a Luísa escolheu um livro chamado Invenções Geniais prá gente ler.  Ela anda numa febre de Sítio do Picapau Amarelo porque descobriu que já consegue ler as Caçadas de Pedrinho do Monteiro Lobato.  Como o livro de invenções traz as personagens do Sítio foi esse mesmo que ela escolheu.  A princípio eu não me empolguei muito.  Um livro que ensina a fazer objetos e experimentos?  Como eu iria ler isso prá ela?

Mas a gente não deve mesmo julgar o livro pela capa.  Só de dar uma olhadela pelas primeiras páginas percebi que a leitura seria bacana.  Cada duas páginas traz um tema independente, curtinho, que explica a história das invenções.  Decidimos ler só três temas porque já era tarde.  Foi interessante ver como ela se interessava sobre ferramentas de pedra lascada e a utilização da roda.  Percebi que os textos, realmente curtinhos, não saciaram sua curiosidade.  A Lulu ficava comentando cada sentença que eu terminava de ler e fazendo perguntas que eu, obviamente, nem sempre conseguia responder.

É muito engraçado refletir sobre essa leitura porque quando eu penso em leitura compartilhada geralmente penso em leitura literária.  É difícil definir o que é literário, mas eu basicamente penso em livros ou textos, de ficção ou não, que trazem algum valor estético.  Acho que os textos informativos são diretos e não dão margem a múltiplas interpretações por isso não caberiam nessa categoria.

Mas que perda seria a nossa se deixássemos de incluir textos informativos nas nossas leituras compartilhadas!  Nos momentos de leitura livre na minha sala de aula era claro o interesse que havia pelos livros de ciências, história, enciclopédias e almanaques.  Eu procurava destacar dentro das cestas de leitura livros que tratassem dos temas discutidos nas aulas de matemática, ciências e estudos sociais.  E era tão bacana ver meus alunos lendo juntos, apontando ilustrações, discutindo temas (e às vezes até brigando por um livro determinado)!  Era uma realização total.


Acho que não me dei conta que essas leituras são importantes em qualquer contexto, não só na sala de aula.  Além de estar expondo nossas crianças a tipos de texto diferentes, estaremos também despertando o gosto por leituras diferentes.  E importantes!  Não estamos lidando com textos informativos diariamente?  A Alma diz no texto dela que "se um livro informativo é diferente de um livro narrativo, certamente exigirá formas de leitura diferentes".  Acho que podemos introduzir essas formas de leitura de uma maneira prazerosa, agradável.  Que maneira melhor do que lendo juntos?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Papo de Sapato

Amo o título desse livro!  Ele é sonoro e engraçado, mas pelo título a gente não consegue imaginar a história linda que está escondida lá dentro.  O Pedro Bandeira é mesmo um craque.  Ontem me surpreendi com um nó na garganta enquanto lia o livro para a Luísa.  Quem diria...  Esse livro também não é novo para mim, nem para a Lulu, mas já fazia um tempinho que não o líamos.  E por primeira vez, que eu me lembre, a força do livro me agarrou de surpresa, foi maior que eu e transbordou.  A voz travou, deu vontade de chorar enquanto lia.

Depois fiquei me perguntando porquê (com acento?  sem acento?  junto?  separado?  preciso de uma aula urgente!!!)  Será que foi porque me esforcei tanto na 'interpretação'?  Não foi proposital, foi acontecendo naturalmente.  A história começa simples e vai crescendo, crescendo até o clímax já pertinho do final.  E que surpresa que esse final me tocasse de tal maneira.  De novo me lembrei do Daniel Pennac que diz no Como um Romance:

"O homem que lê de viva voz se expõe totalmente."

E mais adiante ele continua:

"O homem que lê de viva voz se expõe totalmente aos olhos que o escutam."

E é claro que minha filha não deixou passar o meu tropeço, o meu engasgo.  Rapidamente se achegou a mim e apertou o meu braço, como se me consolasse.  Não sei até que ponto a Luísa entendeu a história.  A mensagem é tão sutil... mas ela entendeu que eu tinha entendido alguma coisa forte.  Ela entendeu que o significado dessa história com ilustrações tão lindas e divertidas (do Ziraldo!), trazia alguma coisa que me emocionou.  Essa troca foi significativa.  Tenho certeza que quando ela for mais velha, mais madura, vai procurar esse livro de novo.

p.s. o livro do Daniel Pennac é simplesmente arrepiante.  Obrigada, Alma, por me apresentar!  Já li duas vezes, de capa a capa, numa sentada só.  Agora estou lendo outro livro dele, Diário de Escola, que também é daqueles que a gente não consegue largar.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Notícia fresquinha

Não posso deixar de compartilhar com vocês uma notícia que acabei de ler.  Copiei parte dela aí embaixo porque é muito boa e serve de exemplo para pais e escolas.

"Com uma nota 20 anos à frente do que se espera para o ensino de 1ª a 4ª série do Estado de São Paulo, a escola estadual Professor Astor Vasques Lopes, do bairro Jardim Brasil, em Itapetininga, conseguiu a melhor pontuação no Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação no Estado de São Paulo), com nota 8,55, conquistando o status de melhor escola de São Paulo. Lá estudam cerca de 380 alunos de média e baixa renda."
 
Que essa escola tenha conseguido resultado tão bom é simplesmente o máximo!  E como?  Como foi que eles conseguiram isso?

"Para conseguir uma excelente pontuação no Saresp, a escola desenvolveu três projetos permanentes que foram fundamentais no resultado do Idesp. Para a diretora Arlete Ansbach, o projeto “Leitura em Família” se tornou um ponto forte para o resultado, uma vez que um dos grandes desafios da escola é a falta de participação dos pais na educação dos filhos. Nesse projeto, a criança leva um livro pra casa e alguém, que pode ser a mãe, pai, tio ou avô, lê esse livro e faz um depoimento por escrito. “A parceria com os pais e familiares tem se tornado um ponto fundamental. As crianças se sentem estimuladas”, comenta."

Acho que nem preciso explicar o por que da minha empolgação, né?  Os outros dois projetos desenvolvidos pela escola são as "Rodas de Leitura" e o "Brincando com a Matemática".   Quem quiser ler o artigo todo tem só que clicar no link aí embaixo.

http://www.guareisp.com.br/Noticias.asp?noticia=4977

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Conhecendo autores

A leitura de hoje foi bem bacana.  Resolvemos escolher uma história curtinha porque a Luísa estava mais a fim de continuar escutando poesias no ipod.  Minha filha intelectual high-tech...  Fiquei feliz em ver que ela tinha trocado o Manu Chao pelo Shel Silverstein.  Adoro o Manu Chao, mas gostei de ver que ela gostou tanto da nossa "leitura" de ontem que hoje foi procurar as poesias por conta própria.

Mas então, voltando à escolha do livro...

Eu sugeri o Felpo Filva, da Eva Furnari, que é uma história linda e romântica.  Ela não se interessou.  Olhou pela prateleira e achou o Cocô de Passarinho.  De quem?  Da Eva Furnari também!  Coincidência pura.  Quando nos sentamos, comecei a ler o título e dizer quem era o autor.  Sempre faço isso: leio o titulo e os nomes do autor e ilustrador.  Acho legal as crianças conhecerem os nomes dos criadores das obras que elas gostam.  Assim podem procurar mais livros de autores com os quais se identifiquem.  Além do mais, elas adoram quando reconhecem o nome do autor e/ou ilustrador. E foi bem isso o que aconteceu hoje.  Quando eu disse:
- Autor: Eva Furnari
A Lulu respondeu:
-Ah!  Eu conheço!
-É a autora do Você Troca?
-E também do Não Confunda...

(aparte: obrigada, Karina, por apresentar a Eva para a Luísa)

A partir daí a interação com o texto já foi diferente.  A história a gente já conhecia, já tinha lido antes e por isso começamos a prestar mais atenção noutras coisas.  Parávamos a cada página para comentar as ilustrações e numa dessas saiu o comentário da Luísa:
-Esses desenhos parecem uma pintura do Salvador Dalí.
Eu nem sabia que minha filha conhecia o Dali...  E o pior é que ela tinha razão.  Eu estava pelejando para lembrar onde tinha visto aqueles traços antes.  Picasso?  Miró?  Não.  Era Dalí mesmo.  A partir daí seguimos lendo e comentando, rindo e analisando cada página, cada detalhezinho.  Foi uma leitura curtinha, mas rica, rica.

Quando acabamos corri no escritório para procurar o Não Confunda, o Você Troca, o Assim Assado e o Travadinhas.  Joguei o Felpo Filva no balaio Eva Furnari.  E ofereci todos prá Lulu ler sozinha.  Acho que ela não teria tomado essa iniciativa - de vez em quando a gente tem que dar uma insistida prá que eles leiam sozinhos também.  Não forcei, só sugeri.  Sorte minha (e dela) que a sugestão foi aceita.  E agora ela está lá, dando risada perdida nos livros.

Ah!  Acabei de me lembrar!  Na escola eles estão lendo Os Problemas da Família Gorgonzola - Eva Furnari na cabeça.  Vou lá correndo contar prá Luísa.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Todo tipo de leitura vale a pena

Hoje o programa de leitura foi demais.  Aliás, não foi leitura, foi "escutura".  Acho que de vez em quando eu gosto de ser audiência e hoje dei um jeito de virar ouvinte com a Luísa em vez de ler para ela.  Estava dando uma olhada nas músicas que estão armazenadas no meu computador e dei de cara com um disco de poesias do livro Where the Sidewalk Ends, narradas pelo próprio Shel Silverstein que é o autor.

A Luísa já conhecia várias delas porque a professora do ano passado lia muita poesia para os alunos e um dos poetas preferidos da criançada é o próprio.  Ficamos um tempão enroscadas na cama, ouvindo a voz deliciosa do Shel S.  Era muito bacana cada vez que ela reconhecia uma poesia.  Dizia, "Ah, essa eu conheço" e pedia para ouvir de novo.  Forte isso.

Volto a repetir que os professores de sala tem um poder tremendo na formação de leitores.  Já faz quase um ano que a Lulu saiu da sala da "Ms. Hansen", mas ela continua lembrando e demonstrando preferencia por aquelas poesias que ela ouviu antes.  Se todos os professores do mundo tirassem dez ou quinze minutos por dia para LER para seus alunos, só pelo simples prazer de ler, o mundo inteiro seria muito mais apaixonado pela leitura.

Confesso que não sou muito leitora de poesia.  Não é que eu não goste, pelo contrário!  Amo poesia.  Mas não é a minha escolha natural, não é o gênero literário que eu procuro geralmente.  Por isso eu talvez não seja muito boa  "leitora" de poesia quando leio em voz alta.  Acho importante, no entanto, apresentar váaaaarios gêneros e estilos diferentes para as crianças e creio que encontrei uma forma legal de dar uma incrementada nas nossas leituras compartilhadas.  Ninguém melhor para ler os poemas do Shel Silverstein do que o próprio Shel.  Não quero dizer com isso que só vamos ler poesia quando eu achar um autor que tenha gravado suas próprias obras.  De jeito nenhum, não é isso!  Mas uma novidade de vez em quando é sempre bom.

E aqui vai uma bem linda, em inglês porque não me atrevo a traduzir, para todos desfrutarem.

No Difference

Small as a peanut,
Big as a giant,
We're all the same size
When we turn off the light.

Rich as a sultan,
Poor as a mite,
We're all worth the same
When we turn off the light.

Red, black or orange,
Yellow or white,
We all look the same
When we turn off the light.

So maybe the way
To make everything right
Is for God to just reach out
And turn off the light!

By Shel Silverstein

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mais uma de dragões

Estamos num enrosco só com esse livro que começamos a ler na semana passada.  Corremos, corremos, corremos para ler o máximo antes de ir ao cinema e agora parece que estamos indo o mais devagar possível para a história não terminar.  Falta pouquinho, de hoje não passa. 

Acabei não indo ao cinema com a Lulu.  Ela queria ver o filme em 3D e eu não consigo, passo mal, então ela foi com o Felipe.  Fiquei em casa, sentindo uma ansiedadezinha.  E se ela não se interessasse em ler o resto do livro por causa do filme?  Mas me enganei!  Ela voltou encantada com as aventuras do Soluço e seus companheiros vikings, mas disse que o filme era muuuuito diferente do livro: nem melhor, nem pior, só diferente.  Mas igualmente divertido.  Era tarde quando eles voltaram, já tinha passado da hora da cama.  Então ela vestiu o pijama, escovou os dentes e pediu o quê? 

"Mãe, você lê mais um pouquinho do livro antes d'eu dormir?"

Glória total.