quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Constância

Nossa, tive a maior dificuldade em escrever esse título.  Nem sei se está acentuado corretamente.  Tenho que aprender essa nova ortografia urgentemente!  E provavelmente mais um bocado de regras gramaticais e de estilo, mas enfim...  ainda bem que meus leitores são "chegados", he, he, he.

Essa postagem será curtinha.  Mesmo porque nossa leitura em família tem sido nula, inexistente, nada, nada, nadica de nada.  Nunca imaginei que achar tempo fosse ser um problema.  Pior ainda: nunca achei que o desinteresse dos meus filhos fosse ser um problema.  Estou um pouco decepcionada, mas prometi ser sincera nesse blog porque gostaria que ele fosse lido por outros pais (ou educadores) e por isso é importante compartilhar o que acontece de negativo nesse projeto.

Não sei bem porque os nossos estados de espírito não estão batendo.  Toda vez que eu acho que é um bom momento de lermos juntos as crianças dizem "depois..."  Por enquanto estou culpando a preguiça do carnaval e a ansiedade pelo recomeço das aulas - tanto das crianças quanto minhas.  Hoje foi o primeiro dia que acordamos às 6:00 e tomamos café da manhã todos juntos novamente.  Estou esperançosa de que assim que a rotina se normalizar, poderemos retomar a leitura diária com mais afinco.

Mas enquanto isso não acontece... fui buscar algumas dicas na internet e achei um panfletinho bem bacana para pais/leitores.  É claro que está em inglês, mas vou me animar e traduzir para o português.  Aqui vai o link para quem se interessar: http://www.rif.org/assets/Documents/parents/reading_aloud.pdf 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mantendo o interesse

Oooooh! Não dá para acreditar! Queimaram todos os livros do D. Quixote! Coitadinho, tinha ficado tan-tan de tanto ler histórias de cavalaria por isso os amigos resolveram dar fim na causa de sua maluquice. Não sei bem como eu me sinto a respeito desses dois conceitos: primeiro ele fica maluco por causa dos livros e depois os amigos destroem a sua biblioteca. Hmmm... tenho que pensar sobre isso.

Mas o intuito aqui não é comentar o livro e sim comentar a experiência de ler com a Luísa. Depois de tantos dias sem ler foi difícil retomar o fio da meada. Ela estava relutante (oh, decepção!) e eu tive que me conter para não forçar a situação. Afinal, a experiência não serviria de nada se virasse uma obrigação para ela, um encontro com hora marcada. Quero mesmo é que ela desfrute de cada momento, que anseie por eles. Por enquanto não consegui chegar lá... Está difícil competir com o Asterix.

Hoje porém, consegui fisgá-la. Ela se sentou a meu lado logo depois do almoço e topou ler mais um pouquinho. Foi divertido descobrir como o D. Quixote convenceu o Sancho Pança a acompanhá-lo em suas loucas aventuras. O Sancho é uma figura interessante, a Lulu estava louca para conhecê-lo. Por isso parei de ler assim que ele apareceu! Terminei o capítulo e ela pediu mais, mas a essa altura já tínhamos lido mais de meia hora e eu resolvi manter o suspense. A minha estratégia é deixá-la bem curiosa para que ela venha me procurar da próxima vez (assim como faz com o Felipe antes de dormir). Será que vai funcionar? Veremos.

Acho que está um pouquinho difícil para ela "entrar" na história por causa da linguagem. Resolvemos ler a versão do D. Quixote para crianças do Monteiro Lobato, mas a minha cópia é aquela beeeeeem antiga, de quando eu era criança. Tem várias palavras que nem eu conheço. Talvez eu tenha que fazer mais um ajuste aí... Sei que existe uma versão com linguagem atual dos livros do Sítio do Picapau Amarelo. Talvez seja melhor procurar essa versão. Assim a Lulu faz menos esforço para entender e curte mais a aventura. É, vou explorar essa idéia.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Impossibilitados de ler

Descobri nos últimos dois dias que há realmente algumas condições básicas para se ler em família. Faz três dias que o Dom Quixote está abandonado em cima da mesinha de cabeceira da Luísa, isso porque faz três dias que ela tem tido amigas brincado em casa. Como sou a única mãe que ainda não voltou a trabalhar, tenho dado uma força às famílias das duas grandes amigas da Luísa, ficando com as meninas durante o dia. O problema é que enquanto as meninas estão aqui, a Luísa não quer nem saber de mim.

A minha chance de ler com ela tornou-se inexistente já que a historinha de antes de dormir é sempre do "papai". Havíamos criado esse hábito há anos já que o Felipe passava menos tempo do que eu com as crianças. Ele sempre chegou em casa mais tarde e só sobrava tempo para jantar e colocar as crianças para dormir. Por isso o momento de ler com as crianças antes de dormir tornou-se dele. Acho maravilhoso que ele tenha tomado para si esse momento, mas confesso que às vezes sinto uma pontada de ciúmes quando ouço os dois morrendo de gargalhar no quarto. Eles às vezes leem juntos os livros que a Luísa traz da biblioteca da escola, ou alguma outra novidades que compramos nas livrarias, mas geralmente eles preferem ler o Asterix. Nunca vi uma criança de sete anos tão versada em gauleses. Mas enfim, o fato é que há dias não sei o que acontece com o fidalgo da Mancha e estou morrendo de curiosidade. A Luísa, honestamente, está mais interessada em brincar com os seus playmobil.

E já que ela não estava me dando bola, resolvi fazer uma tentativa de recuperar a leitura com o Pedro. Desde que ele começou a ler sozinho que eu não consegui mais fazer uma leitura em conjunto. Ele é dessas pessoas que não aguentam ler um pouquinho de cada vez. Ele é um leitor muito interessante, porque gosta de ler o mesmo livro várias vezes, mas a primeira vez é sempre com pressa. Ele realmente 'engole'o livro porque quer chegar logo ao fim. Por isso todas as vezes que começávamos a ler juntos, só chegávamos ao segundo ou terceiro capítulo. Depois disso o Pedro sumia com o livro para terminar de ler sozinho e eu ficava a ver navios.

Anteontem fui à procura de um bom livro de contos. Achei que um conto seria perfeito porque poderíamos ler tudo juntos de uma só sentada. Escolhi o Edgar Alan Poe porque ele é um dos meus favoritos e porque os jovens costumam gostar desse lado sombrio que ele tem. As histórias são sempre arrepiantes e os finais são sempre surpreendentes. Entrei no quarto do Pedro e perguntei:
- Posso ler uma história prá você?
Ele topou na hora, fiquei muito feliz. Comecei a ler The Pit and the Pendulum porque é um dos que eu mais gosto. Li duas ou três páginas no embalo, animada demais para parar e perguntar o que o Pedro estava achando, até que li um parágrafo cheio de metáforas e resolvi checar para ver se ele tinha entendido.
- Na verdade não estou entendendo nada, Mãe...
Na minha empolgação com a história, me esqueci de uma coisa tão básica quanto avaliar se o estilo e a linguagem eram acessíveis a um menino (rapaz!) de 14 anos. Demos algumas risadas, fui para a sala e terminei de ler o conto sozinha. Mas não desisti. Logo, logo vou achar o conto perfeito para ler com o Pedro.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

HQs

O calor está tremendo. O termômetro diz 34 graus, mas eu não acredito. Deve estar no mínimo 54. Faz duas horas que estou prostrada na cama, lendo e tentando não me mexer muito. Fui agora mesmo olhar o que as crianças estavam fazendo porque a casa estava quieta demais. Achei que estavam os dois dormindo, mas não! Surpresa! Está cada qual em seu quarto, janelas abertas, refestelados embaixo do ventilador de teto lendo... A Turma da Mônica! Cada um tem uma pilha de revistinhas a seu lado e parece que faz duas horas que eles estão fazendo isso. E viva o calor.

Há alguns anos li um livro chamado The Power of Reading de um pesquisador americano, o Stephen Krashen. Nesse livro, que eu acho que não está traduzido, ele fala sobre a importancia do que ele chama de Free Voluntary Reading - Leitura Livre Espontânea (na falta de tradução melhor). Eu não concordo com tudo o que ele diz no livro, mas um capítulo me chamou muito a atenção. O capítulo sobre a leitura de revistas em quadrinhos. Em seu livro, Krashen sugere que pesquisas feitas nos Estados Unidos sobre a leitura de revistas em quadrinhos demonstram que essa leitura "leve" (light reading, nas palavras do autor) serve de condutor para leituras mais densas e sofisticadas.


O Pedro, que hoje tem 14 anos e é um grande leitor, aprendeu a ler com quadrinhos. Ele frequentava uma escola internacional e estava aprendendo a ler em inglês, mas o que realmente fisgou sua atenção foi a Turma da Mônica. Quando ele descobriu que o que estava escrito nos balõezinhos complementava os desenhos e "melhorava" as histórias, passou a devorar gibis. No princípio levava um tempo para que ele conseguisse juntar todas as letras e sons para entender palavras e sentenças. Mas como o interesse era grande, ele persistiu e aos poucos foi se tornando um leitor mais fluente. Lembro até hoje das gargalhadas dele lendo gibi no sofá. Hoje o Pedro devora livros, livros e mais livros, mas nunca abandonou o hábito de ler quadrinhos. Da Turma da Mônica passou para os quadrinhos da Disney, sabe tudo sobre Carl Banks e outros famosos do ramo e hoje coleciona vários quadrinhos da Marvel. Isso aí é que é paixão por leitura.

Começando pelo Começo

Estou empenhadíssima nos estudos e comecei por um livrinho da Ana Maria Machado chamado Como e Por Que Ler os Clássicos Universais Desde Cedo. O livro faz parte de uma coleção chamada Como e Por Que Ler, da editora Objetiva. A Ana Maria Machado conta logo no primeiro capítulo de quando era bem pequena e seu pai lhe contou a história de Dom Quixote. Foi diferente de ler para ela, já que a linguagem do original de Cervantes é sofisticada e certamente fora do alcance de compreensão de uma criança pequena (e certamente até de uma criança grande).

Ontem à tarde passei os olhos pelas estantes de livros e vi que o Pedro tinha uma adaptação para crianças do D. Quixote. Resolvi começar por ele mesmo! Depois do almoço, nos sentamos no chão, Luísa e eu, bem embaixo do ventilador de teto. Começamos pela apresentação que não era de outra senão da própria Ana Maria Machado. Foi uma surpresa para mim. Aproveitei para contar prá Luísa que eu estava lendo um livro daquela autora e que ela mesma também já conhecia a Ana Maria porque recentemente leu Bem do Seu Tamanho. É muito legal observar as conexões que as crianças fazem quando reconhecem o nome de um autor e percebem que eles são 'criadores'. Tenho certeza que da próxima vez que a Luísa for a uma livraria e enxergar um livro da Ana Maria Machado, vai se lembrar do D. Quixote e do Bem do Seu Tamanho.

Bem, começamos a nos aventurar pela história do fidalgo Dom Quixote e de como ele resolveu se tornar cavaleiro andante e sair pelo mundo em busca de aventuras. Li um capítulo só porque a cada quanto parávamos para comentar alguma palavra diferente ou alguma coisa engraçada que aparecia pelo texto. Assim ficamos durante uma meia hora que para mim era uma boa quantidade de tempo para começar já que a história é tão complexa. Deixei o livro em cima da cabeceira e fui fazer outras coisas achando que a Luísa ia sair pela janela para brincar no jardim. Mas mal virei as costas e a mocinha catou o livro para continuar lendo sozinha. Não aguentou de curiosidade e leu mais um capítulo todinho. À noite, enquanto jantávamos, ela perguntou:
-Mas o Dom Quixote era louco mesmo? Ou era cavaleiro de verdade?

Lembrei-me do livro do Sítio do Picapau Amarelo em que D. Benta conta às crianças a história de D. Quixote, respondendo de tanto em tanto às perguntas dos netos e de Emília. Resolvi responder com as palavras da D. Benta e fui ao escritório atrás do livro antigo, de capa dura verde escura. Encontrei o trecho onde D. Benta explicava porque D. Quixote tinha ficado louco, mas quem disse que a Luísa se contentou com isso? No momento em que ela percebeu as diferenças entre as duas adaptações para crianças, me fez ler o primeiro capítulo da versão do Monteiro Lobato. O tempo inteiro a Luísa ia me interrompendo e dizendo:
-Mas no outro livro eles não explicam assim, explicam assado.

Adorei ouvir as comparações que ela fazia e perceber que ela realmente estava entendendo a história e todos os seus detalhes. Também já vi que vou ter que ler os dois livros ao mesmo tempo porque a Luísa não vai se satisfazer com uma versão só. Realmente a Ana Maria Machado tinha razão quando disse que "Dom Quixote não se esgota em uma só leitura nem uma só adaptação. Sempre deixa o leitor com gosto de quero-mais".

Em tempo: essa também é a minha primeira vez lendo Dom Quixote. Estamos só no começo, mas já estou me coçando para comprar o original em espanhol...