sábado, 6 de fevereiro de 2010

Impossibilitados de ler

Descobri nos últimos dois dias que há realmente algumas condições básicas para se ler em família. Faz três dias que o Dom Quixote está abandonado em cima da mesinha de cabeceira da Luísa, isso porque faz três dias que ela tem tido amigas brincado em casa. Como sou a única mãe que ainda não voltou a trabalhar, tenho dado uma força às famílias das duas grandes amigas da Luísa, ficando com as meninas durante o dia. O problema é que enquanto as meninas estão aqui, a Luísa não quer nem saber de mim.

A minha chance de ler com ela tornou-se inexistente já que a historinha de antes de dormir é sempre do "papai". Havíamos criado esse hábito há anos já que o Felipe passava menos tempo do que eu com as crianças. Ele sempre chegou em casa mais tarde e só sobrava tempo para jantar e colocar as crianças para dormir. Por isso o momento de ler com as crianças antes de dormir tornou-se dele. Acho maravilhoso que ele tenha tomado para si esse momento, mas confesso que às vezes sinto uma pontada de ciúmes quando ouço os dois morrendo de gargalhar no quarto. Eles às vezes leem juntos os livros que a Luísa traz da biblioteca da escola, ou alguma outra novidades que compramos nas livrarias, mas geralmente eles preferem ler o Asterix. Nunca vi uma criança de sete anos tão versada em gauleses. Mas enfim, o fato é que há dias não sei o que acontece com o fidalgo da Mancha e estou morrendo de curiosidade. A Luísa, honestamente, está mais interessada em brincar com os seus playmobil.

E já que ela não estava me dando bola, resolvi fazer uma tentativa de recuperar a leitura com o Pedro. Desde que ele começou a ler sozinho que eu não consegui mais fazer uma leitura em conjunto. Ele é dessas pessoas que não aguentam ler um pouquinho de cada vez. Ele é um leitor muito interessante, porque gosta de ler o mesmo livro várias vezes, mas a primeira vez é sempre com pressa. Ele realmente 'engole'o livro porque quer chegar logo ao fim. Por isso todas as vezes que começávamos a ler juntos, só chegávamos ao segundo ou terceiro capítulo. Depois disso o Pedro sumia com o livro para terminar de ler sozinho e eu ficava a ver navios.

Anteontem fui à procura de um bom livro de contos. Achei que um conto seria perfeito porque poderíamos ler tudo juntos de uma só sentada. Escolhi o Edgar Alan Poe porque ele é um dos meus favoritos e porque os jovens costumam gostar desse lado sombrio que ele tem. As histórias são sempre arrepiantes e os finais são sempre surpreendentes. Entrei no quarto do Pedro e perguntei:
- Posso ler uma história prá você?
Ele topou na hora, fiquei muito feliz. Comecei a ler The Pit and the Pendulum porque é um dos que eu mais gosto. Li duas ou três páginas no embalo, animada demais para parar e perguntar o que o Pedro estava achando, até que li um parágrafo cheio de metáforas e resolvi checar para ver se ele tinha entendido.
- Na verdade não estou entendendo nada, Mãe...
Na minha empolgação com a história, me esqueci de uma coisa tão básica quanto avaliar se o estilo e a linguagem eram acessíveis a um menino (rapaz!) de 14 anos. Demos algumas risadas, fui para a sala e terminei de ler o conto sozinha. Mas não desisti. Logo, logo vou achar o conto perfeito para ler com o Pedro.

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