quinta-feira, 15 de abril de 2010

Especial para quem é Vô e Vó

No finalzinho de fevereiro me dei de presente uma ida a Santiago do Chile para participar do primeiro Congresso Iberoamericano de Lingua e Literatura Infanto-Juvenil.  O congresso foi organizado pela Fundação SM e foi uma experiência indescritível.  Ali estavam autores e ilustradores de toda a América Latina e Espanha falando sobre um tema apaixonante: literatura infantil.  Nem preciso dizer que cada fala era uma aula para mim e que aprendi horrores.  Mas o que mais me tocava, cada vez que alguém falava, eram as histórias de como cada um tinha se tornado leitor, as memórias que cada um tinha do momento em que realmente se transformou, começou a se enxergar, como leitor.  Agora, mais de um mês depois, olhando minhas anotações, percebo o papel fundamental que os avós tiveram na história de alguns desses muito bem-sucedidos autores e  ilustradores.

A história do Antonio Skármeta, por exemplo, é de arrepiar.  Com certeza não vou conseguir reproduzir aqui, nem com a mesma eloquência, nem com a mesma elegância e bom-humor de Skármeta, a história que ele contou, mas fiquei encantada com o trajeto tão peculiar desse autor chileno.  Skármeta tinha uma avó iugoslava com quem sempre ouvia o rádio.  Ouviam juntos as novelas e nos intervalos dos episódios, a avó ia fazendo previsões e contando para o pequeno Antonio o que aconteceria a seguir.  Antonio escutava atento enquanto desenhava os heróis e vilões dos melodramas até que um dia a avó apagou o rádio e disse para ele:
-Agora você, Antonio.  Você me conta o resto.

Esse foi o seu debut como escritor.

O autor mexicano Juan Villoro compartilhava o sofá com Skármeta nesse bate-papo que foi a inauguração do congresso.  Ele também comentou a forma fascinante da sua avó contar histórias.  Villoro disse, em referência à importância das avós que contam histórias para seus netos, que o clássico "Era uma vez..." deveria se transformar em "Era uma voz..."

Meus filhos têm muita sorte de ter avós que gostam de contar e ler histórias para eles.  Lembro da Maria Ida contando para o Pedro bem pequenininho uma historinha (que ela inventou) do homem que subiu numa escada muito, muito alta para limpar as estrelinhas que estavam sujas no céu.  A Amanda, que é a abuelita da Luísa, sempre, sempre lê com ela quando a Lulu vai dormir na casa dela.  E quando minha mãe foi visitar a gente em São Paulo há uns dois anos a Luísa pediu para que eu por favor não lesse a Pippi Meialonga porque ela queria que a Vovó Amada lesse naquele dia.  E em todos os outros dias que minha mãe esteve lá com a gente.  Eu também me lembro bem do meu avô Antônio que contava histórias de bruxa para os meus primos e para mim quando íamos passar as férias com ele e minha avó Jeannette em Santos.  Ficávamos os seis primos sentados na sala, olhos grudados no Vôzinho, todos se pelando de medo, mas sem nem piscar.

Não sei se há memória mais gostosa do que memória de Vô e de Vó.  E não sei se existe algum leitor que não tenha memória do momento em que se tornou leitor.  Acho que juntar as duas coisas é poderoso.  Portanto queridos Vôs e Vós por aí, não se esqueçam de incluir os livros infantis nas suas listas de compras.  Visitas às bibliotecas e livrarias são programas deliciosos!  Arranjem um canto bem gostoso em casa e abandonem-se no prazer de ler com seus netos. 

Dicas: já que falei de Skármeta e Villoro aí vão duas dicas.  Quem ainda não leu A Redação precisa ler urgentemente!  O Juan Villoro ainda não foi traduzido para o português (que pena!) mas Las Golosinas Secretas é delicioso.

3 comentários:

  1. Sil,
    Que lindo!! Além de ter sido uma delícia relembrar esses momentos vividos com você e nossos primos ouvindo o Vozinho em Santos, sabe que até fiquei com mais vontade de ser avó?! Com certeza vou lembrar disso quando chegarem os netinhos...
    Bj, Chris

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  2. Sílvia de Moraes Artacho27 de abril de 2010 às 07:11

    Silvana querida, começo a visitar o seu blog.
    Parabéns por essa idéia maravilhosa. Ainda me lembro da minha mãe lendo Monteiro Lobato. Quando eu ler para o Sammy pensarei em você. Grande beijo, Sílvia

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