sábado, 20 de março de 2010

Um tempão para ler

O Jim Trelease, autor de The Read Aloud Handbook (Manual de Leitura em Voz Alta), diz em seu livro que não se deve arrumar desculpas para não ler para os filhos. Ele argumenta que se realmente não houvesse tempo algum para se ler com os filhos então as redes de tv a cabo estariam falidas e os shoppings estariam vazios. Acho que o ponto que ele tenta fazer é que ler para os filhos, apesar de ser visto como algo importante a se fazer, não é prioridade e por isso as pessoas sempre arrumam desculpas para se justificar por não fazê-lo. Não estou em desacordo, mas devo dizer que às vezes a falta de tempo atrapalha sim. E vou explicar isso descrevendo o que acontece quando se tem tempo de sobra.


Ontem, sexta-feira, a Luísa não foi à aula. Ela voltou da escola com muita dor de cabeça na quinta e como eles tinham um passeio para o circo (???) marcado para ontem, resolvi que era melhor ela ficar em casa descansando. Foi uma ótima decisão porque ela dormiu mais de doze horas seguidas e apesar de acordar bastante congestionada, estava totalmente descansada e sem dor de cabeça. Durante a manhã, enquanto eu fazia minhas coisas pela casa, ela brincou, leu, estudou violino, fez a tarefa do dia anterior, se ocupou. Mas logo depois do almoço ela pediu para assistir televisão e eu então propus que lêssemos um pouco antes disso. Foi uma delícia! Ficamos mais de uma hora, juntinhas, lendo no pufe. Porque ela já tinha feito todas as "obrigações", a tarde estava totalmente livre e nós soubemos aproveitar bastante. Lemos cinco ou seis capítulos do livro e foi muito, muito bacana porque parece que pudemos finalmente "entrar" na história. Foi uma experiência realmente diferente.

Eu SEI que ler diariamente é importantíssimo e sei que dez ou quinze minutos ao dia já fazem a maior diferença. Mas a verdade é que quando uma pessoa pode se abandonar à história, sem ter que se preocupar com a próxima atividade marcada ou com a hora de dormir, a experiência é outra. O Daniel Pennac, autor de Como um Romance, diz uma coisa muito linda, na qual eu tenho pensado bastante:

"Ele é, desde o começo, o bom leitor que continuará a ser se os adultos que o circundam alimentarem seu entusiasmo em lugar de pôr à prova sua competência, estimularem seu desejo de aprender, antes de lhe impor o dever de recitar, acompanharem seus esforços, sem se contentar de esperar na virada, consentirem em perder noites, em lugar de procurar ganhar tempo, fizerem vibrar o presente, sem brandir a ameaça do futuro, se recusarem a transformar em obrigação aquilo que era prazer, entretendo esse prazer até que ele se faça um dever, fundindo esse dever na gratuidade de toda aprendizagem cultural, e fazendo com que encontrem eles mesmos o prazer nessa gratuidade."


Este blog nasceu do desejo de documentar as experiências de leitura compartilhada com meus filhos. Tem me ajudado a buscar uma constância nesse meu esforço de apresentar a eles e dividir com eles a minha paixão pela leitura. Só não posso, no meu esforço por manter essa mesma constância, perder o sentido de que o importante realmente é que eles mesmos descubram a sua própria paixão.

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