terça-feira, 16 de março de 2010

O Retorno

Depois de um longo e tenebroso inverno... ontem voltei a ler com a Luísa.  A viagem ao Chile realmente me consumiu - antes, durante e depois.  E levei esse tempo todo para retomar a rotina, pisar de novo com força no chão.  Mas aí está, voltamos a ler juntas e que delícia!  Escolhemos um livro da Ana Miranda sobre a construção de Brasília.  Tá bem, tá bem, foi mesmo sugestão minha.  Mas de repente me deu vontade de compartilhar um pouco da minha história com a minha filha.  Brasília é tão parte de mim e a Lulu conhece tão pouco...

Assim que começamos a ler o livro da coleção Memória e História da Companhia das Letrinhas chamado Flor do Cerrado: Brasília.  Eu adoro essa coleção - todos os títulos são fantásticos e depois de tanto Dom Quixote (que por sinal ficou abandonado pela metade) achei legal ler um texto de não-ficção.  É muito gostoso ler não-ficção, mas também é um esforço.  Tenho certeza que isso é invencionice minha, mas me dá a sensação de que com um texto de não ficção eu não devo exagerar tanto na entonação, nas falas e vozes.  Parece que não fica autentico e no entanto, por que não ficaria?  Talvez eu tenha tido a sensação de ter que ler com mais 'sobriedade' (por falta de palavra melhor) porque esse primeiro capítulo é super descritivo, fala bastante da vida e dos lugares de Fortaleza onde a Ana vivia.  Porque eu já li essa história antes, não vejo a hora de entrar na parte em que eles se mudam definitivamente para Brasília.

O primeiro capítulo já chegou arrebentando, falando sobre mudanças e separações de pessoas queridas.  A Ana Miranda teve que sair novinha do Ceará porque seu pai foi trabalhar na construção da nova capital.  A maior tristeza dela era deixar para trás a babá e a avó.  A Lulu não falou nada, mas senti ela se achegar mais na cama.  Quando viemos para Florianópolis ela também teve que se despedir de muitas pessoas amadas e deixar lá em São Paulo a abuelita querida.  Sem mencionar a babá, Manuela, da qual ela já tinha se despedido alguns meses antes.  Tenho certeza que o livro fez com que ela pensasse nas duas, se lembrasse mesmo que só por um instantinho.  Não que ela precise de incentivo para se lembrar de quem ela gosta, mas que aconteceu, isso aconteceu.

E não é isso o que faz um livro?  Não é isso o que nós leitores fazemos, numa busca incessante pela compreensão?  Fazemos relações, conexões.  Buscamos em nosso conhecimento e em nossas vivências, experiências que nos ajudem a compreender, num sentido muuuuuuito amplo do termo, o que estamos lendo.  Esses 'flashes' de entendimento, esses momentos de relação com o texto são quase mágicos.  É como se nos descobríssemos lá dentro do livro, escondidos entre as palavras.  Tudo de bom.

PS - Dom Quixote anda meio largado, mas isso não quer dizer que o abandonamos de vez!  Logo, logo ele volta às paradas de sucesso.  Acho que ler é assim mesmo - a gente tem que ler aquilo que tem vontade na hora.  Eu pelo menos leio duas, três coisas diferentes ao mesmo tempo.  Assim é mais divertido!

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